19 de maio de 2016

Controle sua mente e livre-se dos maus pensamentos

Nossa mente é como um aparelho de rádio que recebe todas as espécies de mensagens através dos nossos pensamentos, captados e transmitidos de pessoa em pessoa.

O pensamento é uma força sutil e dinâmica. A velocidade do pensamento é muito maior que a da luz e ele se propaga instantaneamente. Tem um poder muito grande e é contagiante.

Uma pessoa equilibrada difunde ao seu redor pensamentos de harmonia que entram nas mentes de outras pessoas e produzem sentimentos de paz e harmonia. Em contraste com isto, uma mente negativa com raiva, inveja transmite esses pensamentos negativos que entram em outras mentes, produzindo pensamentos e sentimentos de violência e conflitos.

A lei "os semelhantes exercem mútua atração" funciona também no mundo do pensamento. O semelhante atrai o semelhante. Você rejeita e absorve os pensamentos de acordo com seu mundo interno. Se você está positivo, assimila pensamentos positivos, de prosperidade, alegria. Se estiver negativo, sua mente é receptiva às vibrações negativas e assimila pensamentos de medos, tristeza, raiva, inquietação.

Assim como você exercita seu corpo fazendo caminhadas, ginástica, esportes, para manter a saúde física, você precisa manter a saúde mental pela recepção de ondas corretas de pensamento. Precisa mudar sua atitude interior, aprender a relaxar, a apaziguar corpo e mente e cultivar pensamentos bons e positivos.

A saúde do corpo começa na mente. Todo pensamento é transmitido às células e exerce influência sobre o corpo. Se na mente existir emoções e pensamentos negativos, eles serão transmitidos através dos nervos para cada célula do corpo. A tristeza na mente enfraquece o corpo. As células que atuam como soldados defendendo o corpo, se enfraquecem, tornando-se ineficientes. Isto diminui a força vital e produz a doença.

O sorriso envia para o cérebro uma mensagem que tudo está bem. Isto aumenta a serotonina no cérebro produzindo um estado de bem-estar e seu sistema imunológico fica mais forte. Sorria. Confie, ria, celebre a vida com um coração agradecido.

Aprenda como controlar seus pensamentos através do yoga

O cultivo do pensamento positivo é uma ciência exata e através do Yoga aprendemos como podemos transformar nossa vida através de nossos pensamentos.

O Yoga tem um método muito eficiente para controlar nossos pensamentos cortando pela raiz o circulo vicioso de incontáveis pensamentos negativos que tiram a nossa paz mental.

Como você planta um jardim, escolhendo boas sementes, plantando-as, esperando que brotem e germinem, assim também você tem que escolher bons pensamentos em sua mente. Para cuidar de um jardim, você observa e arranca as ervas daninhas. Do mesmo modo, você precisa observar os velhos pensamentos negativos e cortá-los na raiz o mais rápido possível. Pare de alimentá-los e afaste-os assim que os observar.

Aprenda a observar a sua mente

Comece a observar atentamente como vários pensamentos inúteis, de preocupação, do passado ou do futuro surgem em sua mente e fogem de seu controle. Um pensamento conduz a outro e você vai se tornando agitado. Observe como se torna tenso quando se deixa envolver por estes pensamentos. Você fica remoendo mágoas, reproduzindo mentalmente cenas conflitantes e gerando assim raiva e sofrimentos inúteis.

Perceba o que acontece em sua mente antes destes pensamentos formarem estas ondas negativas trazendo aflições e ansiedade. Quando detectar isto, diga para você mesmo: 

"Olha eu aí de novo... Olha eu alimentando isto de novo".
"Para que pensar isto e causar sofrimento para mim? Isto é mente negativa".

E deste modo, corte o mal pela raiz. Este método é infalível. Quando a mente perceber que está sendo observada, que agora tem alguém no comando, ela vai se tornando menos resistente, mais dócil e se torna mais fácil controlá-la.

Antes de sua mente disparar com tantos pensamentos, pare com esta inquietação. Procure se concentrar no que está fazendo. Converse com sua mente. Explique a ela que no momento certo você fará o que tem de ser feito, que tudo acontece para melhor. Acredite em você e na sua mente positiva que é sua verdadeira amiga.

Não permita que a mente permaneça nos velhos sulcos, nos antigos padrões mentais e hábitos antigos de pensamentos. Pratique a vigilância. Mantenha-se alerta. Compreenda que você pode afastar os pensamentos desnecessários, negativos, de irritação, de tristeza, de medos. Cultive pensamentos proveitosos, benéficos e úteis. Aprenda a estar presente no momento presente.

Comece a praticar isto agora mesmo. Não desanime se no princípio achar que é difícil ou até impossível. Muitos destes pensamentos negativos estão morando em seu interior há muito tempo e eles se sentem donos de sua mente; não vão querer sair com facilidade. Tenha a coragem de mudar e ser livre para ser mais feliz. Seja persistente e determinado!

Ao perceber, algumas vezes ao dia, um pensamento negativo e imediatamente substituí-lo por um pensamento oposto, você começa a exercer seu poder de escolha.Você começa a usar o poder da mente a seu favor. Você compreende que pode parar de sofrer. Você adquire o apoio de uma mente tranquila, amável, mais silenciosa e pacífica.

A maioria das pessoas nem mesmo começa a tentar, e a maioria daqueles que começam, não se lembram de continuar a fazê-lo. Todavia, se você for persistente e estável, pode criar o hábito do pensamento positivo. Em vez do hábito da preocupação e tristeza, desenvolva o hábito da alegria e felicidade.

A maioria de nós tem sido condicionada a pensar negativamente. Isto se tornou um velho hábito e parece perfeitamente natural. Todavia, você pode apagar o velho condicionamento e criar tendências positivas.

Para experimentar um sentimento você tem que primeiro produzir o pensamento que é responsável por este sentimento. Quando se sentir triste, deprimido, desanimado, observe seu pensamento -- com certeza você alimentou um pensamento negativo. Sem pensamento negativo não pode existir a depressão, o estresse, a angústia. Você mesmo alimenta seus conflitos, irritação e ansiedade com a força de seu pensamento.

Precisamos compreender que passado é passado e não adianta ficar remoendo o que já passou, se torturando, se culpando e sendo assim seu próprio inimigo. Sentir mágoas e guardar ressentimentos não muda as situações, apenas perturba nossa mente e causa infelicidade. Não é errado se lembrar do passado, mas precisamos nos libertar dos sentimentos negativos ligados aos acontecimentos.

Se você tem uma pedra em seu sapato, você a tira. Descalça o sapato, o sacode e senti alívio imediato. Você precisa compreender que também pode remover um pensamento negativo da mente. Basta decidir fazer isto. Escolher o que pensar. Escolher optar por ser mais feliz.

Pratique o doce autoesforço. Permita que a jóia da paciência emerja de seu próprio ser e brilhe. Desenvolva o poder do pensamento positivo e colha seus frutos benéficos, vivendo com mais entusiasmo e tranquilidade.Fique em paz!

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Referências bibliográficas:
O poder do pensamento pela Ioga. Sivananda,Swami. Ed. Pensamento
Não faça tempestade em copo d'água...e tudo na vida são copos d'água. Carlson,Richard. Ed. Rocco

Assista o vídeo referente a este texto...


20 de abril de 2016

As coisas acontecem quando você não as espera

As coisas acontecem quando você não as espera, as coisas acontecem quando você não as força, as coisas acontecem quando você não está ansiando por elas.

Mas isso é uma consequência, não um resultado. E fique claramente consciente da diferença entre “consequência” e “resultado”. Um resultado é conscientemente desejado; uma consequência é um subproduto. Por exemplo: se eu digo a você que se você brincar, a felicidade será a consequência, você vai tentar por um resultado. Você vai e brinca e você fica esperando pelo resultado da felicidade. Mas eu lhe disse que ela será a consequência, não o resultado.

A consequência significa que se você está realmente na brincadeira, a felicidade acontecerá. Se você constantemente pensa na felicidade, então, ela tem de ser um resultado; ela nunca acontecerá. Um resultado vem de um esforço consciente; uma consequência é apenas um subproduto. Se você estiver brincando intensamente, você estará feliz. Mas a própria expectativa, o anseio consciente pela felicidade, não lhe permitirá brincar intensamente. A ânsia pelo resultado se tornará a barreira e você não será feliz.

A felicidade não é um resultado, é uma consequência. Se eu lhe digo que se você amar, você será feliz, a felicidade será uma consequência, não um resultado. Se você pensa que, porque você quer ser feliz, você deve amar, nada resultará disso. A coisa toda será falsificada, porque a pessoa não pode amar por algum resultado. O amor acontece! Não há motivação por detrás dele.

Se há motivação, não é amor. Pode ser qualquer outra coisa. Se eu estou motivado e penso que, porque desejo a felicidade, vou amá-lo, esse amor será falso. E como ele será falso, a felicidade não resultará dele. Ela não virá; é impossível. Mas se eu o amo sem qualquer motivação, a felicidade segue como uma sombra.

A aceitação será seguida por transformação, mas não faça da aceitação uma técnica para a transformação. Ela não é. Não anseie por transformação – somente então a transformação acontece. Se você a deseja, seu próprio desejo é o obstáculo.

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Osho

9 de junho de 2015

Sobre o Vegetarianismo

"Sou vegetariano e gostaria que todo o mundo se tornasse vegetariano. 
Deveríamos criar uma regra que nenhuma comida não-vegetariana deveria fazer parte do cardápio das universidades, pois matar e praticar a violência em nome da alimentação é tão feio e desumano que não se pode esperar que essas pessoas se comportem de uma maneira amorosa, sensível, humana. A alimentação não-vegetariana é uma das causas básicas de toda a sociedade estar em uma luta praticamente contínua. Ela o torna insensível, duro, como uma rocha, e cria raiva e violência em você, o que pode ser facilmente evitado."


Amado Osho, por que todos seus discípulos são vegetarianos?

Meus discípulos são vegetarianos não como um culto, não como uma crença, mas porque suas meditações os tornam mais humanos, mais do coração, e eles podem perceber toda a estupidez que é matar seres sensíveis para comer. É a sensibilidade deles, a consciência estética que os tornam vegetarianos. 
Não ensino o vegetarianismo, pois ele é um sub-produto da meditação. Sempre que a meditação aconteceu, as pessoas se tornaram vegetarianas, sempre, por milhares de anos.

Os jainistas são vegetarianos há milhares de anos. Você precisa saber que todos seus 24 mestres vieram da casta de guerreiros. Todos eles comiam carne; eles eram guerreiros profissionais. O que aconteceu com essas pessoas? A meditação transformou toda a visão delas. Não apenas suas espadas caíram de suas mãos juntamente com seu espírito guerreiro, mas um novo fenômeno começou a acontecer: um tremendo sentimento de amor para com a existência. Elas se tornaram absolutamente unas com o todo, e o vegetarianismo é apenas uma pequena parte dessa grande revolução. O mesmo aconteceu com o budismo. 
O cristianismo, o islamismo e o judaísmo não são vegetarianos pela simples razão de que essas religiões nunca se depararam com a revolução que a meditação traz. Elas nunca se deram conta da meditação. 

O vegetarianismo não é minha filosofia, mas simplesmente um sub-produto. Não insisto nele, mas insisto na meditação. Seja mais alerta, mais silencioso, mais alegre, mas extasiado e encontre seu centro mais profundo. Com isso, muitas coisas seguirão por si mesmas e, vindo por si mesmas, não há repressão, não há luta, não há esforço, não há tortura. 

Para mim, a meditação é a única religião essencial, e tudo o que segue é virtude, pois vem espontaneamente. Não tenho nada com o vegetarianismo, mas sei que, se você meditar, crescerá em você nova perceptividade e sensibilidade e você não poderá contribuir com a morte de animais.
Há milhões de pessoas que nunca pensaram no vegetarianismo. Desde a infância elas contribuem com o assassinato de animais. Isso não é diferente do canibalismo. E, desde Charles Darwin, é um fato absolutamente científico que o ser humano evoluiu dos animais; então, você está matando seus próprios antepassados, e os devorando com alegria. Não faça algo tão maldoso!
A meditação lentamente lhe traz de volta sua sensibilidade, e essa sensibilidade torna meu povo vegetariano. Isso é um ganho, e não uma perda. A humanidade perdeu seu coração, e precisamos trazê-lo de volta a todos que o desejam. Esse é o significado do meu sannyas.

Vocês cresceram em famílias que não se preocupavam com o que vocês comiam. Desde o começo, tudo o que lhes era dado, vocês aceitavam. Vocês se acostumaram com isso. Essa é uma das razões de que o maior número de iluminados aconteceu na Índia, pois este é o único país em que as pessoas são vegetarianas. Na Índia, também existem não-vegetarianos, mas, de não-vegetarianos, nenhuma pessoa se iluminou. O caso é semelhante no Ocidente. Isto fere seus condicionamentos, mas a verdade é que Moisés, Elias e Jesus não são nada, comparados com Gautama Buda, Vardhamana, Mahavira, Shankara e Nagarjuna, simplesmente nada. Seu florescimento, sua elevação... A distância entre Jesus e Gautama Buda é tão grande pela simples razão de que essas pessoas, Jesus, Moisés e Elias, são todas grosseiras, não são sensíveis o suficiente para se tornarem iluminadas. E porque elas não puderam se tornar iluminadas, não puderam ensinar o vegetarianismo a seus seguidores. Se eles tivessem se iluminado, a primeira coisa a lhes ensinar teria sido o vegetarianismo.

Nos Estados Unidos, muitas pessoas me perguntaram: “É verdade que sua comuna é vegetariana?” Elas nunca pensaram a respeito; elas comem carne desde a infância e não podiam acreditar que cinco mil não-vegetarianos se tornaram vegetarianos. Eu explicava a elas que é feio matar animais, seres sensíveis, para servirem de comida, havendo outras comidas disponíveis. Se você faz isso, então qual é a diferença entre você e os canibais? Na verdade, os canibais dizem que a carne mais deliciosa é a de humanos. Dessa maneira, se o sabor é o fator decisivo, por que não matarem uns aos outros, por que não matar o seu filho, a sua esposa? E é isso o que você está fazendo ao ser conivente com a morte de um animal – você está matando um marido, um filho, uma esposa, um pai, uma mãe.
E elas entendiam e diziam: “Nunca pensamos dessa maneira, mas está certo.”

Buda disse a seus discípulos para não comerem carne, pois não se trata apenas de uma questão de reverência à vida. Também é uma questão de que, se você não estiver repleto de reverência à vida, seu coração se tornará enrijecido; seu amor se tornará falso, sua compaixão será apenas uma palavra.

A preocupação de Mahavira e de Gautama Buda era a de que o ser humano não deveria comer apenas para viver; ele deveria comer para crescer em uma consciência mais pura. Um comedor de carne permanece inconsciente, acorrentado à terra; ele não pode voar pelo céu da consciência. As duas coisas não podem coexistir: você estar se tornando mais e mais consciente e não estar nem mesmo consciente do que está fazendo, e apenas para satisfazer o paladar, o que é impossível sem matar. Você pode se alimentar de comidas vegetarianas deliciosas; então, comer carne é absolutamente desnecessário, um hábito apodrecido do passado.

O jainismo é a primeira religião que tornou o vegetarianismo uma necessidade fundamental para a transformação da consciência, e eles estão certos. Matar apenas para comer torna a sua consciência pesada, insensível, e você precisa de uma consciência muito sensível, muito leve, muito amorosa, muito compassiva. É muito difícil para um não-vegetariano ser compassivo, e, sem ser compassivo e amoroso, você estará freando seu próprio progresso.

Temos uma expressão: “Não tenho estômago para isso.” Essa é uma expressão exatamente precisa. Há coisas para as quais você não tem estômago. Alguém lhe insulta e você diz: “Não tenho estômago para isso, não posso engolir essa.”Quando a mente começa a mudar, paralelo a isso o estômago começa a mudar. Esta é minha observação, que as pessoas que meditam terão de chegar ao momento em que seus estômagos terão de ser reajustados. É por isso que os grandes meditadores vieram a acreditar no vegetarianismo. Essa não era uma filosofia, nada tinha a ver com qualquer atitude filosófica. Através de meditações profundas eles vieram a compreender que não tinham estômago para muitas coisas, era impossível.

O vegetarianismo nada mais é do que um sub-produto da meditação profunda. Se uma pessoa segue meditando, aos poucos perceberá que é impossível comer carne. Não que alguém diga para não comer, mas, se você entrar fundo em meditação, um dia não terá estômago para isso, será nauseante. A própria ideia de comer carne lhe dará ânsia de vômito e ela não será tolerada pelo seu estômago. Agora você está sentido que está em um mundo suave, tão sutil e refinado que não pode acreditar que antes comia carne. Parece impossível, e para quê?

Podemos colocar carne e coisas assim no estômago porque muitos instintos primitivos estão na mente: raiva, ganância, ódio, violência. Uma vez desaparecidas essas coisas da mente, então o paralelo também desaparecerá no estômago.

A contribuição de Pitágoras à filosofia ocidental é imensa, incalculável. Pela primeira vez, ele introduziu o vegetarianismo ao Ocidente. A ideia do vegetarianismo é de imenso valor; ela está baseada na grande reverência à vida. 
A mente moderna pode agora entender isso de uma maneira muito melhor, pois agora sabemos que todas as formas de vida estão interligadas, são interdependentes. O ser humano não é uma ilha, ele existe em uma rede infinita de milhões de formas de vida e de existência. Existimos em uma corrente, não estamos separados. E destruir outros animais não é apenas feio e desumano, mas também não-científico. Estamos destruindo nossa própria fundação, já que a vida existe em uma unidade orgânica. O ser humano existe como parte dessa orquestra.

O vegetarianismo simplesmente significa: não destrua a vida; vida é Deus. Evite destruí-la, senão você estará destruindo a própria ecologia.
E há algo muito científico por trás disso. Não é por acaso que todas as religiões que nasceram na Índia são basicamente vegetarianas e que todas as que nasceram fora da Índia são não-vegetarianas. Os cumes mais elevados da consciência religiosa nasceram na Índia.

O vegetarianismo funciona como uma purificação. Quando você come animais, fica pesado, é puxado mais em direção à terra. Quando você é vegetariano, fica leve, está mais sob a lei da graça, sob a lei do poder e começa a ser puxado em direção ao céu.
Sua comida não é apenas comida, ela é você. O que você come, você se torna. Se você come algo que esteja fundamentalmente baseado em assassinato, em violência, não pode se elevar acima da lei da necessidade. Você se tornará mais ou menos um animal. O humano nasce quando você começa a se mover acima dos animais, quando começa a fazer algo a si mesmo que nenhum animal pode fazer.

O vegetarianismo é um esforço consciente, um esforço deliberado, para tirá-lo do peso que o mantém atado à terra, de tal modo que assim você possa voar.
Quanto mais leve a comida, mais profunda será a meditação. Quanto mais grosseira a comida, então a meditação se torna mais e mais difícil. Não estou dizendo que a meditação é impossível para um não-vegetariano; ela não é impossível, mas é desnecessariamente difícil. 

É como um homem que sobe uma montanha e carrega muitas pedras. É possível que, mesmo carregando pedras, você possa chegar ao topo da montanha, mas isso cria problemas desnecessários. Você poderia ter jogado fora essas pedras, poderia ter se aliviado e a escalada poderia ser mais fácil e mais agradável.
A pessoa inteligente não carrega pedras quando sobe uma montanha, não carrega nada desnecessário. E, quanto mais alto ela estiver, mais e mais leve ficará; mesmo se estiver carregando algo, ela o abandonará.

O vegetarianismo é de imensa ajuda, ele muda a sua química. Quando um animal é morto, ele está com raiva, com medo, naturalmente. Quando você mata um animal... Pense em você sendo morto. Qual será o estado de sua consciência? Qual será sua psicologia? Todos os tipos de veneno serão liberados em seu corpo, pois, quando está com raiva, um certo tipo de toxina é liberada em seu sangue. Quando você está com medo, de novo outros tipos de toxinas serão liberadas em seu sangue. E, quando você está sendo assassinado, esses são o medo e a raiva supremos. Todas as glândulas de seu corpo liberam todos os seus venenos. 

E o ser humano segue vivendo dessa carne envenenada. Se ela o mantém raivoso, violento, agressivo, isso não é estranho, mas natural. Quando você vive da morte, não tem nenhum respeito pela vida, é inimigo da vida. 
E quem é inimigo das criaturas de Deus também não pode ser amigo de Deus. Se você destruir uma pintura de Picasso, não pode ser respeitoso para com Picasso, é impossível. Todas as criaturas pertencem a Deus; Deus vive nelas, respira nelas. Elas são sua manifestação, assim como você. Elas são irmãos e irmãs. 
Quando você vê um animal, se a idéia de irmandade não lhe surgir, você não sabe o que é prece, nunca saberá o que é prece. E é tão feia a própria idéia de que apenas por comida, apenas pelo paladar, você pode destruir a vida. É impossível acreditar que o ser humano siga fazendo isso.

Pitágoras foi o primeiro a introduzir o vegetarianismo no Ocidente. É de uma grande profundidade o ser humano aprender a viver em irmandade com a natureza, em irmandade com as criaturas. Essa é a base, e somente sobre essa base você pode basear sua prece, sua meditatividade. Você pode observar por si mesmo: quando você come carne, a meditação será mais difícil.

É um fato inquestionável que, se você quiser meditar, se quiser silenciar a mente, se quiser ficar leve, tão leve que a terra não possa puxá-lo para baixo, tão leve que você comece a levitar, tão leve que o céu se torne disponível a você, então precisará se mover do condicionamento não-vegetariano para a liberdade do vegetarianismo. 

O vegetarianismo não tem nada a ver com religião: ele é algo basicamente científico. Ele não tem nada a ver com moralidade, mas muito a ver com estética. É inacreditável que um ser humano de sensibilidade, de consciência, de compreensão e de amor possa comer carne. E, se ele puder comer carne, então algo está faltando; em alguma dimensão ele ainda está inconsciente do que está fazendo, inconsciente das implicações de seus atos.

Mas Pitágoras não foi ouvido, não foi acreditado; pelo contrário, foi ridicularizado e perseguido. E ele trouxe um dos maiores tesouros do Oriente para o Ocidente, ele trouxe um grande experimento. Se ele tivesse sido ouvido, o Ocidente teria se tornado um mundo totalmente diferente.

Não podemos mudar a consciência humana a menos que comecemos a mudar o corpo humano. Quando você come carne, está absorvendo o animal em você, e o animal precisa ser transcendido. Evite! 
Você terá que observar toda a sua vida, terá que observar cada pequeno hábito em detalhe, pois, algumas vezes, algo muito pequeno pode mudar toda a sua vida. Algumas vezes pode ser algo muito simples, e ele pode mudar a sua vida tão totalmente que parece inacreditável.

Tente o vegetarianismo e você ficará surpreso: a meditação se tornará mais fácil, o amor se tornará mais sutil e perderá sua grosseria, se tornará mais sensível e menos sensual, e o seu corpo também começará a ter uma vibração diferente; você se tornará mais gracioso, mais suave, mais feminino, menos agressivo, mais receptivo.

O vegetarianismo é uma mudança alquímica em você, ele cria o espaço no qual o metal básico pode ser transformado em ouro.
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Osho em:
The Last Testament, volume 5, capítulo 13
From Death to Deathlessness, capítulo 32, questão 3
From Death to Deathlessness, capítulo 5, questão 4
The Last Testament, volume 4, capítulo 17
The Messiah, volume 1, capítulo 12
The Transmission of the Lamp, capítulo 25, questão 1
O Cipreste no Jardim, capítulo 17
Philosophia Perennis, volume 2, capítulo 6

7 de maio de 2015

O copo


Uma psicóloga estava andando de um lado para o outro em sua sala de aula, enquanto falava para os alunos do tema de como lidar com os problemas da vida.

Quando ela se aproximou de sua mesa e pegou seu copo de água, todos na sala certamente esperavam que ela fosse fazer a clássica pergunta do ‘copo metade cheio ou metade vazio’. Em vez disso, com um sorriso no rosto, ela perguntou: “Qual peso deste copo d’água?”.

Os alunos responderam: “Em torno de 500 gramas”.

Ela falou: “O peso absoluto não importa. O que importa é quanto tempo você vai segurá-lo. Se eu o seguro por um minuto, isso não é um problema. Se o seguro durante uma hora, eu vou ter uma dor no meu braço. Se o seguro durante um dia, meu braço vai sentir entorpecido e paralisado. De todo o modo, o peso do copo não muda, mas quanto mais eu segurá-lo, mais pesado ele se torna”.

Ela continuou: “Os problemas e preocupações da vida são como um copo d'água”. Pense sobre eles por um curto tempo e nada acontece. Pense sobre eles um pouco mais e eles começam a machucar.

E se você pensar sobre seus problemas e preocupações o tempo todo, você vai se sentir paralisado – incapaz de fazer qualquer coisa.

Então lembre-se de SEMPRE colocar o copo na mesa.

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Autor desconhecido

19 de dezembro de 2014

O homem realmente disciplinado jamais se prende a nada

Disciplina é uma bela palavra, mas, assim como, no passado, o foram todas as belas palavras, ela tem sido mal empregada. A palavra disciplina tem a mesma raiz da palavra discípulo - o significado da raiz é “processo de aprendizagem”. Aquele que se mostra disposto a aprender é um discípulo, e a atitude de estar disposto a aprender é disciplina.

A pessoa douta nunca está disposta a aprender, pois acha que já sabe muito; ela se mantém muito centrada no que chama de conhecimento. Seu conhecimento não é nada senão alimento para o ego. Ela não é capaz de ser um discípulo, de se manter sob verdadeira disciplina.

Sócrates disse: “Só sei que nada sei” — esse é o princípio da disciplina. Quando você não sabe nada, claro, claro que lhe sobrevém o desejo intenso de inquirir, explorar, investigar. E, assim que começa a aprender, surge inevitavelmente outro fator: qualquer coisa que você tenha aprendido tem que ser abandonada sempre; em caso contrário, ela se tornará conhecimento, e conhecimento impede a aprendizagem de outras coisas.

O homem realmente disciplinado jamais se prende a nada; a cada momento, ele morre para qualquer coisa que tenha vindo a saber e volta a ser ignorante. Essa ignorância é verdadeiramente luminosa.

Concordo com Dionísio quando ele afirma que a ignorância é luminosa. Uma das experiências mais belas da existência é estar num estado de luminosa ignorância. Quando está nesse estado de luminosa ignorância, você está aberto, não há barreira em seu ser, você está disposto a investigar.

A disciplina tem sido mal-interpretada. As pessoas têm dito às outras que disciplinem sua vida, que façam isso, que não façam aquilo. Têm sido imposto ao homem milhares de deves e não-deves. E, quando o homem vive com inúmeros deves e não-deves, ele não consegue ser criativo. Ele se torna prisioneiro; em toda parte, ele deparará uma barreira.

A pessoa criativa tem que eliminar todos os deves e não-deves. Ela precisa de liberdade e de espaço, muito espaço; ela precisa do céu inteiro e de todas as estrelas que existem nele. Só assim sua espontaneidade pode começar a florescer.

Portanto, lembre-se: minha ideia de disciplina não envolve nenhum dos dez mandamentos; não estou impondo-lhes nenhum tipo de disciplina; estou simplesmente tentando fazê-lo discernir a ideia de como continuar a aprender e jamais arvorar-se em douto.

Sua disciplina tem que vir de seu próprio coração; ela tem que ser inteiramente sua - e há uma grande diferença nisso. Quando alguém lhe impõe algum tipo de disciplina, talvez ela jamais lhe sirva; será como vestir as roupas de outrem. Ou elas ficarão grandes demais ou muito apertadas, e você sempre se sentirá um tanto idiota nelas.

Maomé legou um corpo de disciplina aos muçulmanos; talvez isso tenha sido bom para ele, mas não pode ser bom para todos. Buda legou um corpo de disciplina a milhões de budistas; talvez isso tenha sido bom para ele, mas não pode ser bom para todos.

A disciplina é um fenômeno que se dá no âmbito da individualidade; toda vez que a adota de outrem, você começa a viver de acordo com princípios pré-estabelecidos, preceitos mortos. E a vida jamais é morte; a vida é transformação incessante. A vida é movimento.

Heráclito está certo: você não pode entrar no mesmo rio duas vezes. Aliás, gostaria de dizer-lhe que você não pode entrar no mesmo rio uma única vez sequer, pois ele se move muito rapidamente! A pessoa tem que estar atenta a cada situação e suas nuanças, observando-a, e é necessário que a pessoa reaja à situação de acordo com o momento, e não conforme a algum tipo de respostas prontas, fornecidas por outrem.

Você percebe a estupidez da humanidade? Há cinco mil anos, Manu transmitiu um corpo de disciplina aos hindus, e, até hoje, eles o seguem. Três mil anos atrás, Moisés deixou um corpo de disciplina aos judeus, e ainda hoje eles o seguem. Há cinco mil anos, Rsabhanatha transmitiu seu corpo de disciplina aos jainistas, e eles ainda o seguem.

O mundo está sendo levado à loucura com essas doutrinas! Elas são ultrapassadas; elas deveriam ter sido enterradas há muito, muito tempo. Vocês estão carregando defuntos nas costas, e esses defuntos fedem. E, quando você vive cercado por defuntos, que tipo de vida você pode levar?

Eu lhes ensino o momento, e a liberdade do momento, e a responsabilidade do momento. Algo pode ser correto neste momento e pode tornar-se errado no momento seguinte.

Não tente ser imutável, pois, nesse caso, você estará morto. Só os mortos são imutáveis. Procure estar vivo, com todas as suas inconstâncias, e viva cada momento sem nenhuma ligação com o passado nem com o futuro. Viva o momento, e suas reações serão plenas.

Essa plenitude é sublime, essa plenitude é criatividade. Com isso, tudo que você fizer terá beleza própria.

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Osho, em "Criatividade : Libertando Sua Força Interior"

19 de agosto de 2014

Essa espera é a transformação


Pergunta a Osho:

Eu não sou rica nem tenho tudo de que preciso. Mas, mesmo assim, eu me sinto sozinha, confusa e deprimida. Existe alguma coisa que eu possa fazer quando esse tipo de depressão acontece?

Se está deprimida, fique deprimida; não “faça” nada. O que você pode fazer? Qualquer coisa que faça, fará por causa da depressão e isso a deixará mais confusa. Você pode rezar a Deus, mas rezará de modo tão deprimente que deixará até Deus deprimido com as suas orações!

Não cometa essa violência contra o pobre Deus. A sua oração será uma oração deprimente. Como você está deprimida, qualquer coisa que fizer virá acompanhada de depressão. Causará mais confusão, mais frustração, porque você não vai ser bem-sucedida. E, quando não é bem-sucedida, você fica mais deprimida, e esse é um ciclo sem fim.

É melhor ficar com a depressão original do que criar um segundo ciclo e depois um terceiro. Fique com o primeiro; o original é belo. O segundo será falso e o terceiro será um eco longínquo. Não crie esses últimos dois. O primeiro é belo.

Você está deprimida, portanto, é assim que a existência está se manifestando para você neste momento. Você está deprimida, então continue assim. Espere e observe. Você não vai poder ficar deprimida por muito tempo, porque neste mundo nada é permanente.

Este mundo é um fluxo. Ele não pode mudar as suas leis básicas por você, de modo que possa continuar deprimida para sempre. Nada aqui é para sempre; tudo está em movimento e em mudança. A existência é um rio; ela não pode parar para você, para que você possa continuar deprimida para sempre. Ela está em movimento — já mudou. Se você observar a sua depressão, verá que nem ela é a mesma; é diferente, está em mutação.

Só observe, continue com ela e não faça nada. É assim que a transformação acontece: por meio do não-fazer.

Sinta a depressão, prove-a em profundidade, vivencie-a, esse é o seu destino — quando menos esperar você sentirá que ela desapareceu, porque a pessoa que aceita até mesmo a depressão não pode ficar deprimida.

A pessoa, a mente que consegue aceitar até a depressão não permanece deprimida! A depressão precisa de uma mente sem aceitação: “Isso não é bom, isso não é nada bom; isso não devia ter acontecido, não devia; as coisas não deveriam ser desse jeito”. Tudo é negado, é rejeitado — não aceito.

O “não” é a reação básica; até a felicidade será rejeitada por uma mente como essa. Essa mente descobrirá algo para rejeitar a felicidade também. Você ficará em dúvida quanto a ela. Sentirá que algo está errado. Estará feliz, por isso achará que existe alguma coisa errada: “Bastou meditar durante alguns dias para eu ficar feliz? Isso não é possível!”

A mente sem aceitação não aceita nada. Mas, se conseguir aceitar a sua solidão, a sua depressão, a sua confusão, a sua tristeza, você já estará transcendendo. Aceitação é transcendência. Você eliminou o próprio motivo da depressão, então ela não pode continuar.

Experimente isto:

Seja qual for o seu estado de espírito, aceite-o e aguarde até que esse estado mude por si só. Você não estará mudando nada, poderá sentir a beleza que se assoma quando o seu estado de espírito muda naturalmente. Você verá que é como o sol nascendo pela manhã e se pondo à noite. Então, mais uma vez ele se elevará no céu para depois se pôr à noite, e assim dia após dia.

Você não precisa fazer nada a respeito. Se conseguir sentir os seus estados de espírito mudando naturalmente, você vai ficar indiferente. Vai ficar a quilômetros de distância, como se a mente estivesse em outro lugar. O sol está nascendo e se pondo; a depressão está surgindo, a felicidade está surgindo, depois indo embora, mas você não está participando disso. Ela vem e vai embora por conta própria; os estados irrompem, mudam e desaparecem.

Com a mente confusa, é melhor esperar e não fazer nada, para que a confusão desapareça. Ela vai desaparecer; nada é permanente neste mundo. Você só precisa de muita paciência. Não tenha pressa.

Eu lhe contarei uma história que eu sempre repito. Buda estava atravessando uma floresta. O dia estava quente — o sol estava a pino — ele tinha sede, por isso pediu ao seu discípulo Ananda, “Volte. Nós cruzamos um córrego. Volte e pegue um pouco de água para mim”.

Ananda voltou, mas o córrego era estreito demais e algumas carroças estavam passando por ele. A água, agitada, tinha ficado barrenta. Toda a sujeira do fundo viera à superfície, tornando a água imprópria para consumo. Então Ananda pensou, “Terei de voltar de mãos vazias”. Ele voltou e disse ao Buda, “A água ficou barrenta, não dá para beber”. Deixe-me seguir na frente. Sei que há um rio a alguns quilômetros daqui, eu irei até lá e buscarei água”.

Buda disse, “Não! Volte ao córrego”. Ananda voltou para não desobedecer ao Buda, mas foi contrariado. Ele sabia que a água não ficaria límpida outra vez e que iria apenas desperdiçar seu tempo, além de estar com sede também. Mas ele não podia desobedecer ao Buda. Mais uma vez voltou ao riacho para em seguida refazer o trajeto e dizer a Buda, “Por que o senhor insiste? A água não é potável!”

Buda disse, “Vá outra vez”. E como ordenou Buda, Ananda aquieceu.

Na terceira vez que ele voltou ao riacho, a água estava cristalina como de costume. A sujeira tinha baixado, as folhas mortas descido rio abaixo e a água estava límpida outra vez. Então Ananda riu. Ele encheu seu cântaro de água e voltou dançando. Ao chegar, caiu aos pés do Buda e disse, “Os seus métodos de ensino são miraculosos. Você me ensinou uma grande lição — que só é preciso ter paciência e que nada é permanente”.

E esse é o ensinamento básico do Buda: nada é permanente, tudo é transitório, então para que se preocupar? Volte ao mesmo riacho. Agora, tudo já deve ter mudado. Nada continua igual. Tenha simplesmente paciência e a sujeira vai se assentar, a água vai ficar cristalina outra vez.

Ananda também tinha perguntado ao Buda, depois de voltar do córrego pela segunda vez, “Você insiste para que eu vá, mas eu posso fazer alguma coisa para que a água fique mais limpa?”

Buda disse, “Por favor, não faça nada; do contrário, você a deixará mais enlameada ainda. E não entre no córrego. Fique apenas do lado de fora, esperando na margem. Se entrar, você só piorará as coisas. O córrego flui naturalmente, portanto, deixe-o fluir”.

Nada é permanente; a vida é um fluxo. Heráclito disse que você não pode entrar no mesmo rio duas vezes. É impossível entrar duas vezes no mesmo rio porque o rio nunca pára de fluir; tudo já terá mudado. E não só o rio flui, você também flui. Você também estará diferente; você também é um rio fluindo.

Veja essa impermanência de tudo. Não tenha pressa; não tente fazer coisa alguma. Apenas espere! Espere num total não-fazer.

E, se conseguir esperar, a transformação acontecerá. Essa espera é a transformação.

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Osho, em "Saúde Emocional: Transforme o Medo, a Raiva e o Ciúme em Energia Criativa"

7 de agosto de 2014

O Poder de Cooperar

“Independência!? Isso é blasfêmia da classe média. Cada um de nós, almas na Terra, somos todos dependentes uns dos outros.” – George Bernard Shaw

É dito que a perfeita parceria não acontece quando duas pessoas estão olhando nos olhos uma da outra, mas sim quando as duas pessoas estão lado a lado olhando para a mesma direção. Isto sugere que os relacionamentos não existem meramente para o bem próprio dessas pessoas, unicamente para mantê-las envolvidas e felizes; mas existem, sim, para um propósito maior. A sinergia criada por esta cooperação contribui para um bem maior, algo que simplesmente não seria possível de forma individual. Quando as coisas ficam difíceis em qualquer relacionamento, seja entre o casal, família ou grupo, reconhecer nosso propósito maior para estarmos juntos pode nos ajudar a superar diferenças insignificantes. Como tudo na natureza, nós, seres humanos, também existimos em um círculo de vida. Como diz o ditado: “Nenhum homem é uma ilha”.

Cooperação é a forma natural do mundo. Tudo na natureza contribui para a sobrevivência do outro. Através do “doar”, o ciclo é mantido em movimento e, em retorno, há a recompensa de seu próprio crescimento. A “natureza” da natureza é servir sem expectativas, movendo-se com a invisível vontade das estações, do sol e da lua.

Somos impelidos pelo nosso eu interior, movidos por mãos invisíveis para se juntar ao ciclo da vida – para doar, envolver, compartilhar, servir, contribuir, cooperar – para que possamos também crescer e florescer. Mas, ao contrário da natureza, temos o ego e uma mente individualista. Ao contrário da natureza, podemos criar estórias e sentidos egocêntricos sobre o que está acontecendo; estórias como: “Eu sempre dou e nunca recebo”. “Ninguém aprecia o quanto eu faço”. “Deixe-me parar de dar e eles verão quanto sentirão minha falta!”.
Vocês conseguem imaginar uma árvore, flor, vegetal, planta ou um animal entregando-se a tal autopiedade?

Os pinguins da espécie “Imperadores da Antártica” são um exemplo perfeito de cooperação. As mães deixam os ovos com os pais e partem por meses em busca de comida. Os pais se agrupam para se protegerem do mais terrível inverno do planeta, revezando-se entre eles fora do ciclo. No início da primavera as mães retornam com comida. Estou certa que em nenhum momento durante este cenário penoso os pais queixam-se sobre as mulheres estarem fora desfrutando de um banquete de peixes enquanto eles sofrem no iceberg. Estou certa que as mulheres não se queixam sobre o trabalho duro de capturar peixes. E, estou certa também que eles não olham para seus pequenos filhotes e perguntam: “Será que valeu a pena enfrentar a dificuldade?”
Os animais sentem dor e também respondem à energia, ao amor e à paz, mas eles não sofrem da mesma maneira que sofremos porque eles não têm ego. Eles não pensam em si mesmos como seres separados, ou mais especiais ou mais dignos que os outros. Eles podem competir entre si por comida ou por parceiros sexuais, mas este comportamento é instintivo e não o resultado do processo de um pensamento. Assim, o macho que perde a luta e, portanto, a chance de procriar na temporada, não sofrerá de baixa autoestima ou sentimentos de desesperança ou frustração. A natureza não desperdiça sua energia.

Nós, entretanto, complicamos todo o processo com a estória do “EU”. Como tudo na natureza, nossa natureza verdadeira é cooperar para poder fazer parte de algo maior do que nós mesmos. Muitas pessoas mencionam o trabalho em equipe ou algum projeto o qual contribuíram como sendo um dos maiores destaques de suas vidas. Em tempos de crise e desastre, confrontados com as necessidades urgentes dos outros, as pessoas se esquecem de si mesmas. Elas experimentam alegria e vivacidade no esquecimento. Contudo, como Chekov disse, “Qualquer idiota pode lidar com uma crise. É o dia a dia que o sabota”.

É no dia a dia que esquecemos a alegria de dar e amar sem egoísmo e começamos a questionar se estamos recebendo o suficiente: “Será que recebi respeito, atenção, prêmios e recompensas, amor, dinheiro, posição, privilégio e reconhecimento?” Se não for o “suficiente”, meu ego vai me dizer que não vale a pena fazer aquilo. O simples pensamento “ninguém reparou em mim” pode causar tal dor no ego, de forma que o ego então ordena “para que eu pare de cooperar”, como uma forma de punição para aqueles que não me valorizaram. Eu não percebo no momento que, ao suprimir o meu amor, recursos, tempo, talento, eu então me torno a pessoa que mais perde. Se você não os usa, você os perde. E, se você não doa, você simplesmente também não recebe.

A fim de ser cooperativo, precisamos ser verdadeiramente humildes. Aprendemos a falsa humildade para nos tornarmos bem socializados. Quando somos elogiados por algo, simplesmente respondemos: “Oh, não foi nada. Eu não poderia ter feito isso sem a sua ajuda”. Mas, internamente, uma corrida de adrenalina e as bochechas coradas denunciam a verdade: “Sim, não é que de fato eu fiz muito bem!?” A verdadeira humildade vem de um profundo reconhecimento da interconexão de tudo; que cada momento da minha existência é suportado por infinitos fatores. Enquanto escrevo estas palavras agora, incorporada neste momento, estão implícitas milhares de pessoas que me ensinaram e me nutriram.
A cadeira a qual estou sentada, o computador que uso, a iluminação da sala,... tudo foi oferecido através da cooperação de muitos. Até mesmo o ar que respiro, a comida que alimenta minhas células, o sangue que é bombeado até o meu cérebro, tudo isso depende da vontade biológica. E pensar que tudo isso acontece absolutamente sem sequer um “obrigada” da minha parte! Ainda assim, mesmo com o meu pequeno papel neste grande quadro, eu exijo ser reconhecida. Esta necessidade para a minha pequena gota, de ser reconhecida, como sendo distinta e até mais merecedora do que o próprio oceano do qual ela faz parte, na verdade, leva-me para fora do fluxo da vida.

Ao verdadeiramente me incluir como parte do grande quadro, este grande quadro irá me incluir também. Quando eu deixar de lutar somente pela realização de meus desejos pessoais limitados; quando eu pedir com sinceridade “para ser um instrumento para a paz”, abro-me então para a cooperação de poderes elevados. Deus, o Universo, a Providência – seja qual for a palavra que utilizarmos – estará lá quando eu aquietar a voz do ego e descobrir a mais simples e humilde felicidade. George Bernand Shaw coloca isso maravilhosamente bem: “Esta é a verdadeira alegria da vida, quando o ser é usado para um propósito reconhecido por você mesmo como sendo algo poderoso, tornando-se uma força na natureza ao invés de um coágulo de doenças e ressentimentos reclamando que o mundo não se dedica a fazer você feliz. Eu sou da opinião de que minha vida pertence à comunidade e, enquanto eu viver, é o meu privilégio fazer tudo o que eu possa em relação a ela”.

Esta consciência de interconexão de tudo, especialmente sobre o nível de pensamentos, é conhecida como “A Mente do Universo” – uma teoria apresentada por cientistas como Rupert Sheldrake. Em termos mais simples, “A Mente do Universo” traz a ideia de que no nível de inconsciência nós não somos separados, mas ligados como uma vasta mente. Dessa forma, qualquer coisa que aconteça irá influenciar não somente a uma pessoa, mas o todo. Muitas pessoas já ouviram falar sobre o fenômeno do centésimo macaco em uma ilha. A eles foram oferecidos batatas que, tão logo um grupo começou a lavá-las com água, os outros macacos passaram a copiar a mesma ideia. 
Quanto mais uma ação é executada, mais os outros irão sintonizar esta ação como sendo o padrão. Isto pode ser usado para explicar muitos dos eventos inexplicáveis da natureza como, por exemplo, o porquê das tartarugas deixarem na praia seus filhotes e saberem a hora e local exatos para voltarem e colocarem seus ovos quando estiverem maduros. Este é o mesmo fenômeno que pode explicar por que os cientistas em diferentes partes do mundo, completamente inconscientes do trabalho um do outro, fazem as mesmas descobertas, conclusões ou invenções aproximadamente na mesma época.

A implicação para nós, no nível do cotidiano, é que nada do que fazemos, mesmo isoladamente, é realmente um evento isolado. Tudo afeta o todo. Qualquer ação executada repetidamente forma um hábito na mente do universo tornando mais fácil para os outros se moverem nessa direção. Não percebemos que os pensamentos que estamos tendo estão sendo indiretamente influenciados por milhões de outros, ao mesmo tempo em que nós mesmos também estamos influenciando milhões de outros.

Isto significa que, quando nos colocamos diante da geladeira tentando decidir entre satisfazer nosso paladar ou prezar pela nossa saúde, estamos decidindo pelo mundo. Nossa derrota e vitória, em termos de viver nossa verdade, indiretamente fortalece ou enfraquece os outros a fazerem o mesmo. Do meu ponto de vista, este efeito parece ser mais poderoso sobre as pessoas que estão diretamente ligadas a nós. Quando acontece uma mudança em nossa consciência, parece que todos à nossa volta seguem a mesma mudança. Não se sabe “quem afeta quem” primeiro mas, em termos de cooperação, isso tem uma profunda implicação. Cooperação não significa simplesmente cumprir seu papel no grupo, em algum projeto ou na família. Cooperação é um momento para o outro, empenhando-se para ser e fazer o seu melhor, sabendo que este já é o maior gesto de misericórdia e caridade que você pode fazer para os seus semelhantes.

Em seu livro sobre uma fictícia comunidade espiritual no Peru, “A Profecia Celestina”, o autor descreve como eram realizadas as reuniões. Enquanto cada membro falava, o resto do grupo concentrava-se em enviar energia positiva para aquela pessoa. Eles entendiam que esta energia contribuía para que o orador se mantivesse mais centrado, de modo que tudo o que era dito pudesse ser considerado da mais alta verdade e, portanto, naturalmente em harmonia com as necessidades do todo. Compare isto com aquelas reuniões onde todos estão presos em suas próprias ideias, defendendo e atacando as ideias dos outros.

Em certo nível, o ego pode não gostar da ideia da cooperação, uma vez que isto poderá implicar na renúncia de seus próprios desejos. Mas, se conseguirmos gentilmente direcionar nossa consciência para diminuir o nível de vibrações da mente – as análises do ego e do julgamento – para o nível de nossa sabedoria inata e, ainda mais, com o nível de quietude além das palavras e ideias de “seu” e da “minha mente”, poderemos então concluir que a cooperação não se trata de perder. Pelo contrário, trata-se de ganhar acesso à imensidão do nosso próprio ser e da complexidade divina deste universo o qual fazemos parte.

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Jill Sawers - Brahma Kumaris