19 de dezembro de 2014

O homem realmente disciplinado jamais se prende a nada

Disciplina é uma bela palavra, mas, assim como, no passado, o foram todas as belas palavras, ela tem sido mal empregada. A palavra disciplina tem a mesma raiz da palavra discípulo - o significado da raiz é “processo de aprendizagem”. Aquele que se mostra disposto a aprender é um discípulo, e a atitude de estar disposto a aprender é disciplina.

A pessoa douta nunca está disposta a aprender, pois acha que já sabe muito; ela se mantém muito centrada no que chama de conhecimento. Seu conhecimento não é nada senão alimento para o ego. Ela não é capaz de ser um discípulo, de se manter sob verdadeira disciplina.

Sócrates disse: “Só sei que nada sei” — esse é o princípio da disciplina. Quando você não sabe nada, claro, claro que lhe sobrevém o desejo intenso de inquirir, explorar, investigar. E, assim que começa a aprender, surge inevitavelmente outro fator: qualquer coisa que você tenha aprendido tem que ser abandonada sempre; em caso contrário, ela se tornará conhecimento, e conhecimento impede a aprendizagem de outras coisas.

O homem realmente disciplinado jamais se prende a nada; a cada momento, ele morre para qualquer coisa que tenha vindo a saber e volta a ser ignorante. Essa ignorância é verdadeiramente luminosa.

Concordo com Dionísio quando ele afirma que a ignorância é luminosa. Uma das experiências mais belas da existência é estar num estado de luminosa ignorância. Quando está nesse estado de luminosa ignorância, você está aberto, não há barreira em seu ser, você está disposto a investigar.

A disciplina tem sido mal-interpretada. As pessoas têm dito às outras que disciplinem sua vida, que façam isso, que não façam aquilo. Têm sido imposto ao homem milhares de deves e não-deves. E, quando o homem vive com inúmeros deves e não-deves, ele não consegue ser criativo. Ele se torna prisioneiro; em toda parte, ele deparará uma barreira.

A pessoa criativa tem que eliminar todos os deves e não-deves. Ela precisa de liberdade e de espaço, muito espaço; ela precisa do céu inteiro e de todas as estrelas que existem nele. Só assim sua espontaneidade pode começar a florescer.

Portanto, lembre-se: minha ideia de disciplina não envolve nenhum dos dez mandamentos; não estou impondo-lhes nenhum tipo de disciplina; estou simplesmente tentando fazê-lo discernir a ideia de como continuar a aprender e jamais arvorar-se em douto.

Sua disciplina tem que vir de seu próprio coração; ela tem que ser inteiramente sua - e há uma grande diferença nisso. Quando alguém lhe impõe algum tipo de disciplina, talvez ela jamais lhe sirva; será como vestir as roupas de outrem. Ou elas ficarão grandes demais ou muito apertadas, e você sempre se sentirá um tanto idiota nelas.

Maomé legou um corpo de disciplina aos muçulmanos; talvez isso tenha sido bom para ele, mas não pode ser bom para todos. Buda legou um corpo de disciplina a milhões de budistas; talvez isso tenha sido bom para ele, mas não pode ser bom para todos.

A disciplina é um fenômeno que se dá no âmbito da individualidade; toda vez que a adota de outrem, você começa a viver de acordo com princípios pré-estabelecidos, preceitos mortos. E a vida jamais é morte; a vida é transformação incessante. A vida é movimento.

Heráclito está certo: você não pode entrar no mesmo rio duas vezes. Aliás, gostaria de dizer-lhe que você não pode entrar no mesmo rio uma única vez sequer, pois ele se move muito rapidamente! A pessoa tem que estar atenta a cada situação e suas nuanças, observando-a, e é necessário que a pessoa reaja à situação de acordo com o momento, e não conforme a algum tipo de respostas prontas, fornecidas por outrem.

Você percebe a estupidez da humanidade? Há cinco mil anos, Manu transmitiu um corpo de disciplina aos hindus, e, até hoje, eles o seguem. Três mil anos atrás, Moisés deixou um corpo de disciplina aos judeus, e ainda hoje eles o seguem. Há cinco mil anos, Rsabhanatha transmitiu seu corpo de disciplina aos jainistas, e eles ainda o seguem.

O mundo está sendo levado à loucura com essas doutrinas! Elas são ultrapassadas; elas deveriam ter sido enterradas há muito, muito tempo. Vocês estão carregando defuntos nas costas, e esses defuntos fedem. E, quando você vive cercado por defuntos, que tipo de vida você pode levar?

Eu lhes ensino o momento, e a liberdade do momento, e a responsabilidade do momento. Algo pode ser correto neste momento e pode tornar-se errado no momento seguinte.

Não tente ser imutável, pois, nesse caso, você estará morto. Só os mortos são imutáveis. Procure estar vivo, com todas as suas inconstâncias, e viva cada momento sem nenhuma ligação com o passado nem com o futuro. Viva o momento, e suas reações serão plenas.

Essa plenitude é sublime, essa plenitude é criatividade. Com isso, tudo que você fizer terá beleza própria.

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Osho, em "Criatividade : Libertando Sua Força Interior"

19 de agosto de 2014

Essa espera é a transformação


Pergunta a Osho:

Eu não sou rica nem tenho tudo de que preciso. Mas, mesmo assim, eu me sinto sozinha, confusa e deprimida. Existe alguma coisa que eu possa fazer quando esse tipo de depressão acontece?

Se está deprimida, fique deprimida; não “faça” nada. O que você pode fazer? Qualquer coisa que faça, fará por causa da depressão e isso a deixará mais confusa. Você pode rezar a Deus, mas rezará de modo tão deprimente que deixará até Deus deprimido com as suas orações!

Não cometa essa violência contra o pobre Deus. A sua oração será uma oração deprimente. Como você está deprimida, qualquer coisa que fizer virá acompanhada de depressão. Causará mais confusão, mais frustração, porque você não vai ser bem-sucedida. E, quando não é bem-sucedida, você fica mais deprimida, e esse é um ciclo sem fim.

É melhor ficar com a depressão original do que criar um segundo ciclo e depois um terceiro. Fique com o primeiro; o original é belo. O segundo será falso e o terceiro será um eco longínquo. Não crie esses últimos dois. O primeiro é belo.

Você está deprimida, portanto, é assim que a existência está se manifestando para você neste momento. Você está deprimida, então continue assim. Espere e observe. Você não vai poder ficar deprimida por muito tempo, porque neste mundo nada é permanente.

Este mundo é um fluxo. Ele não pode mudar as suas leis básicas por você, de modo que possa continuar deprimida para sempre. Nada aqui é para sempre; tudo está em movimento e em mudança. A existência é um rio; ela não pode parar para você, para que você possa continuar deprimida para sempre. Ela está em movimento — já mudou. Se você observar a sua depressão, verá que nem ela é a mesma; é diferente, está em mutação.

Só observe, continue com ela e não faça nada. É assim que a transformação acontece: por meio do não-fazer.

Sinta a depressão, prove-a em profundidade, vivencie-a, esse é o seu destino — quando menos esperar você sentirá que ela desapareceu, porque a pessoa que aceita até mesmo a depressão não pode ficar deprimida.

A pessoa, a mente que consegue aceitar até a depressão não permanece deprimida! A depressão precisa de uma mente sem aceitação: “Isso não é bom, isso não é nada bom; isso não devia ter acontecido, não devia; as coisas não deveriam ser desse jeito”. Tudo é negado, é rejeitado — não aceito.

O “não” é a reação básica; até a felicidade será rejeitada por uma mente como essa. Essa mente descobrirá algo para rejeitar a felicidade também. Você ficará em dúvida quanto a ela. Sentirá que algo está errado. Estará feliz, por isso achará que existe alguma coisa errada: “Bastou meditar durante alguns dias para eu ficar feliz? Isso não é possível!”

A mente sem aceitação não aceita nada. Mas, se conseguir aceitar a sua solidão, a sua depressão, a sua confusão, a sua tristeza, você já estará transcendendo. Aceitação é transcendência. Você eliminou o próprio motivo da depressão, então ela não pode continuar.

Experimente isto:

Seja qual for o seu estado de espírito, aceite-o e aguarde até que esse estado mude por si só. Você não estará mudando nada, poderá sentir a beleza que se assoma quando o seu estado de espírito muda naturalmente. Você verá que é como o sol nascendo pela manhã e se pondo à noite. Então, mais uma vez ele se elevará no céu para depois se pôr à noite, e assim dia após dia.

Você não precisa fazer nada a respeito. Se conseguir sentir os seus estados de espírito mudando naturalmente, você vai ficar indiferente. Vai ficar a quilômetros de distância, como se a mente estivesse em outro lugar. O sol está nascendo e se pondo; a depressão está surgindo, a felicidade está surgindo, depois indo embora, mas você não está participando disso. Ela vem e vai embora por conta própria; os estados irrompem, mudam e desaparecem.

Com a mente confusa, é melhor esperar e não fazer nada, para que a confusão desapareça. Ela vai desaparecer; nada é permanente neste mundo. Você só precisa de muita paciência. Não tenha pressa.

Eu lhe contarei uma história que eu sempre repito. Buda estava atravessando uma floresta. O dia estava quente — o sol estava a pino — ele tinha sede, por isso pediu ao seu discípulo Ananda, “Volte. Nós cruzamos um córrego. Volte e pegue um pouco de água para mim”.

Ananda voltou, mas o córrego era estreito demais e algumas carroças estavam passando por ele. A água, agitada, tinha ficado barrenta. Toda a sujeira do fundo viera à superfície, tornando a água imprópria para consumo. Então Ananda pensou, “Terei de voltar de mãos vazias”. Ele voltou e disse ao Buda, “A água ficou barrenta, não dá para beber”. Deixe-me seguir na frente. Sei que há um rio a alguns quilômetros daqui, eu irei até lá e buscarei água”.

Buda disse, “Não! Volte ao córrego”. Ananda voltou para não desobedecer ao Buda, mas foi contrariado. Ele sabia que a água não ficaria límpida outra vez e que iria apenas desperdiçar seu tempo, além de estar com sede também. Mas ele não podia desobedecer ao Buda. Mais uma vez voltou ao riacho para em seguida refazer o trajeto e dizer a Buda, “Por que o senhor insiste? A água não é potável!”

Buda disse, “Vá outra vez”. E como ordenou Buda, Ananda aquieceu.

Na terceira vez que ele voltou ao riacho, a água estava cristalina como de costume. A sujeira tinha baixado, as folhas mortas descido rio abaixo e a água estava límpida outra vez. Então Ananda riu. Ele encheu seu cântaro de água e voltou dançando. Ao chegar, caiu aos pés do Buda e disse, “Os seus métodos de ensino são miraculosos. Você me ensinou uma grande lição — que só é preciso ter paciência e que nada é permanente”.

E esse é o ensinamento básico do Buda: nada é permanente, tudo é transitório, então para que se preocupar? Volte ao mesmo riacho. Agora, tudo já deve ter mudado. Nada continua igual. Tenha simplesmente paciência e a sujeira vai se assentar, a água vai ficar cristalina outra vez.

Ananda também tinha perguntado ao Buda, depois de voltar do córrego pela segunda vez, “Você insiste para que eu vá, mas eu posso fazer alguma coisa para que a água fique mais limpa?”

Buda disse, “Por favor, não faça nada; do contrário, você a deixará mais enlameada ainda. E não entre no córrego. Fique apenas do lado de fora, esperando na margem. Se entrar, você só piorará as coisas. O córrego flui naturalmente, portanto, deixe-o fluir”.

Nada é permanente; a vida é um fluxo. Heráclito disse que você não pode entrar no mesmo rio duas vezes. É impossível entrar duas vezes no mesmo rio porque o rio nunca pára de fluir; tudo já terá mudado. E não só o rio flui, você também flui. Você também estará diferente; você também é um rio fluindo.

Veja essa impermanência de tudo. Não tenha pressa; não tente fazer coisa alguma. Apenas espere! Espere num total não-fazer.

E, se conseguir esperar, a transformação acontecerá. Essa espera é a transformação.

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Osho, em "Saúde Emocional: Transforme o Medo, a Raiva e o Ciúme em Energia Criativa"

7 de agosto de 2014

O Poder de Cooperar

“Independência!? Isso é blasfêmia da classe média. Cada um de nós, almas na Terra, somos todos dependentes uns dos outros.” – George Bernard Shaw

É dito que a perfeita parceria não acontece quando duas pessoas estão olhando nos olhos uma da outra, mas sim quando as duas pessoas estão lado a lado olhando para a mesma direção. Isto sugere que os relacionamentos não existem meramente para o bem próprio dessas pessoas, unicamente para mantê-las envolvidas e felizes; mas existem, sim, para um propósito maior. A sinergia criada por esta cooperação contribui para um bem maior, algo que simplesmente não seria possível de forma individual. Quando as coisas ficam difíceis em qualquer relacionamento, seja entre o casal, família ou grupo, reconhecer nosso propósito maior para estarmos juntos pode nos ajudar a superar diferenças insignificantes. Como tudo na natureza, nós, seres humanos, também existimos em um círculo de vida. Como diz o ditado: “Nenhum homem é uma ilha”.

Cooperação é a forma natural do mundo. Tudo na natureza contribui para a sobrevivência do outro. Através do “doar”, o ciclo é mantido em movimento e, em retorno, há a recompensa de seu próprio crescimento. A “natureza” da natureza é servir sem expectativas, movendo-se com a invisível vontade das estações, do sol e da lua.

Somos impelidos pelo nosso eu interior, movidos por mãos invisíveis para se juntar ao ciclo da vida – para doar, envolver, compartilhar, servir, contribuir, cooperar – para que possamos também crescer e florescer. Mas, ao contrário da natureza, temos o ego e uma mente individualista. Ao contrário da natureza, podemos criar estórias e sentidos egocêntricos sobre o que está acontecendo; estórias como: “Eu sempre dou e nunca recebo”. “Ninguém aprecia o quanto eu faço”. “Deixe-me parar de dar e eles verão quanto sentirão minha falta!”.
Vocês conseguem imaginar uma árvore, flor, vegetal, planta ou um animal entregando-se a tal autopiedade?

Os pinguins da espécie “Imperadores da Antártica” são um exemplo perfeito de cooperação. As mães deixam os ovos com os pais e partem por meses em busca de comida. Os pais se agrupam para se protegerem do mais terrível inverno do planeta, revezando-se entre eles fora do ciclo. No início da primavera as mães retornam com comida. Estou certa que em nenhum momento durante este cenário penoso os pais queixam-se sobre as mulheres estarem fora desfrutando de um banquete de peixes enquanto eles sofrem no iceberg. Estou certa que as mulheres não se queixam sobre o trabalho duro de capturar peixes. E, estou certa também que eles não olham para seus pequenos filhotes e perguntam: “Será que valeu a pena enfrentar a dificuldade?”
Os animais sentem dor e também respondem à energia, ao amor e à paz, mas eles não sofrem da mesma maneira que sofremos porque eles não têm ego. Eles não pensam em si mesmos como seres separados, ou mais especiais ou mais dignos que os outros. Eles podem competir entre si por comida ou por parceiros sexuais, mas este comportamento é instintivo e não o resultado do processo de um pensamento. Assim, o macho que perde a luta e, portanto, a chance de procriar na temporada, não sofrerá de baixa autoestima ou sentimentos de desesperança ou frustração. A natureza não desperdiça sua energia.

Nós, entretanto, complicamos todo o processo com a estória do “EU”. Como tudo na natureza, nossa natureza verdadeira é cooperar para poder fazer parte de algo maior do que nós mesmos. Muitas pessoas mencionam o trabalho em equipe ou algum projeto o qual contribuíram como sendo um dos maiores destaques de suas vidas. Em tempos de crise e desastre, confrontados com as necessidades urgentes dos outros, as pessoas se esquecem de si mesmas. Elas experimentam alegria e vivacidade no esquecimento. Contudo, como Chekov disse, “Qualquer idiota pode lidar com uma crise. É o dia a dia que o sabota”.

É no dia a dia que esquecemos a alegria de dar e amar sem egoísmo e começamos a questionar se estamos recebendo o suficiente: “Será que recebi respeito, atenção, prêmios e recompensas, amor, dinheiro, posição, privilégio e reconhecimento?” Se não for o “suficiente”, meu ego vai me dizer que não vale a pena fazer aquilo. O simples pensamento “ninguém reparou em mim” pode causar tal dor no ego, de forma que o ego então ordena “para que eu pare de cooperar”, como uma forma de punição para aqueles que não me valorizaram. Eu não percebo no momento que, ao suprimir o meu amor, recursos, tempo, talento, eu então me torno a pessoa que mais perde. Se você não os usa, você os perde. E, se você não doa, você simplesmente também não recebe.

A fim de ser cooperativo, precisamos ser verdadeiramente humildes. Aprendemos a falsa humildade para nos tornarmos bem socializados. Quando somos elogiados por algo, simplesmente respondemos: “Oh, não foi nada. Eu não poderia ter feito isso sem a sua ajuda”. Mas, internamente, uma corrida de adrenalina e as bochechas coradas denunciam a verdade: “Sim, não é que de fato eu fiz muito bem!?” A verdadeira humildade vem de um profundo reconhecimento da interconexão de tudo; que cada momento da minha existência é suportado por infinitos fatores. Enquanto escrevo estas palavras agora, incorporada neste momento, estão implícitas milhares de pessoas que me ensinaram e me nutriram.
A cadeira a qual estou sentada, o computador que uso, a iluminação da sala,... tudo foi oferecido através da cooperação de muitos. Até mesmo o ar que respiro, a comida que alimenta minhas células, o sangue que é bombeado até o meu cérebro, tudo isso depende da vontade biológica. E pensar que tudo isso acontece absolutamente sem sequer um “obrigada” da minha parte! Ainda assim, mesmo com o meu pequeno papel neste grande quadro, eu exijo ser reconhecida. Esta necessidade para a minha pequena gota, de ser reconhecida, como sendo distinta e até mais merecedora do que o próprio oceano do qual ela faz parte, na verdade, leva-me para fora do fluxo da vida.

Ao verdadeiramente me incluir como parte do grande quadro, este grande quadro irá me incluir também. Quando eu deixar de lutar somente pela realização de meus desejos pessoais limitados; quando eu pedir com sinceridade “para ser um instrumento para a paz”, abro-me então para a cooperação de poderes elevados. Deus, o Universo, a Providência – seja qual for a palavra que utilizarmos – estará lá quando eu aquietar a voz do ego e descobrir a mais simples e humilde felicidade. George Bernand Shaw coloca isso maravilhosamente bem: “Esta é a verdadeira alegria da vida, quando o ser é usado para um propósito reconhecido por você mesmo como sendo algo poderoso, tornando-se uma força na natureza ao invés de um coágulo de doenças e ressentimentos reclamando que o mundo não se dedica a fazer você feliz. Eu sou da opinião de que minha vida pertence à comunidade e, enquanto eu viver, é o meu privilégio fazer tudo o que eu possa em relação a ela”.

Esta consciência de interconexão de tudo, especialmente sobre o nível de pensamentos, é conhecida como “A Mente do Universo” – uma teoria apresentada por cientistas como Rupert Sheldrake. Em termos mais simples, “A Mente do Universo” traz a ideia de que no nível de inconsciência nós não somos separados, mas ligados como uma vasta mente. Dessa forma, qualquer coisa que aconteça irá influenciar não somente a uma pessoa, mas o todo. Muitas pessoas já ouviram falar sobre o fenômeno do centésimo macaco em uma ilha. A eles foram oferecidos batatas que, tão logo um grupo começou a lavá-las com água, os outros macacos passaram a copiar a mesma ideia. 
Quanto mais uma ação é executada, mais os outros irão sintonizar esta ação como sendo o padrão. Isto pode ser usado para explicar muitos dos eventos inexplicáveis da natureza como, por exemplo, o porquê das tartarugas deixarem na praia seus filhotes e saberem a hora e local exatos para voltarem e colocarem seus ovos quando estiverem maduros. Este é o mesmo fenômeno que pode explicar por que os cientistas em diferentes partes do mundo, completamente inconscientes do trabalho um do outro, fazem as mesmas descobertas, conclusões ou invenções aproximadamente na mesma época.

A implicação para nós, no nível do cotidiano, é que nada do que fazemos, mesmo isoladamente, é realmente um evento isolado. Tudo afeta o todo. Qualquer ação executada repetidamente forma um hábito na mente do universo tornando mais fácil para os outros se moverem nessa direção. Não percebemos que os pensamentos que estamos tendo estão sendo indiretamente influenciados por milhões de outros, ao mesmo tempo em que nós mesmos também estamos influenciando milhões de outros.

Isto significa que, quando nos colocamos diante da geladeira tentando decidir entre satisfazer nosso paladar ou prezar pela nossa saúde, estamos decidindo pelo mundo. Nossa derrota e vitória, em termos de viver nossa verdade, indiretamente fortalece ou enfraquece os outros a fazerem o mesmo. Do meu ponto de vista, este efeito parece ser mais poderoso sobre as pessoas que estão diretamente ligadas a nós. Quando acontece uma mudança em nossa consciência, parece que todos à nossa volta seguem a mesma mudança. Não se sabe “quem afeta quem” primeiro mas, em termos de cooperação, isso tem uma profunda implicação. Cooperação não significa simplesmente cumprir seu papel no grupo, em algum projeto ou na família. Cooperação é um momento para o outro, empenhando-se para ser e fazer o seu melhor, sabendo que este já é o maior gesto de misericórdia e caridade que você pode fazer para os seus semelhantes.

Em seu livro sobre uma fictícia comunidade espiritual no Peru, “A Profecia Celestina”, o autor descreve como eram realizadas as reuniões. Enquanto cada membro falava, o resto do grupo concentrava-se em enviar energia positiva para aquela pessoa. Eles entendiam que esta energia contribuía para que o orador se mantivesse mais centrado, de modo que tudo o que era dito pudesse ser considerado da mais alta verdade e, portanto, naturalmente em harmonia com as necessidades do todo. Compare isto com aquelas reuniões onde todos estão presos em suas próprias ideias, defendendo e atacando as ideias dos outros.

Em certo nível, o ego pode não gostar da ideia da cooperação, uma vez que isto poderá implicar na renúncia de seus próprios desejos. Mas, se conseguirmos gentilmente direcionar nossa consciência para diminuir o nível de vibrações da mente – as análises do ego e do julgamento – para o nível de nossa sabedoria inata e, ainda mais, com o nível de quietude além das palavras e ideias de “seu” e da “minha mente”, poderemos então concluir que a cooperação não se trata de perder. Pelo contrário, trata-se de ganhar acesso à imensidão do nosso próprio ser e da complexidade divina deste universo o qual fazemos parte.

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Jill Sawers - Brahma Kumaris

1 de julho de 2014

Onde quer que você esteja, esteja por inteiro


Observe quando estiver reclamando, com palavras ou pensamentos, de uma situação que envolva você – pode ser alguém que fez ou disse algo que lhe aborreceu, algo sobre a sua situação de vida, o lugar onde mora, ou até mesmo o tempo. Reclamar é sempre uma não aceitação de algo que é. Essa atitude contém invariavelmente uma carga negativa inconsciente. Quando você reclama, transforma-se em vítima. Quando fala, você está no controle. Portanto, mude a situação agindo ou falando, caso necessário ou possível, ou então fuja da situação ou mesmo aceite-a. Fora isso, tudo o mais é loucura.

A inconsciência comum (ilusão) é sempre relacionada, de algum modo, com a negação do Agora. O Agora, naturalmente, também implica "o aqui". Você está resistindo ao aqui e agora? Algumas pessoas prefeririam estar num outro lugar. O “aqui” delas nunca é suficientemente bom. 
Observe-se e verifique se isso acontece em sua vida. Onde quer que você esteja, esteja lá por inteiro. Se você acha insuportável o seu aqui e agora e isso lhe faz infeliz, há três opções: 1) abandone a situação, 2) mude-a ou 3) aceite-a totalmente. 
Se você deseja ter responsabilidade sobre a sua vida, deve escolher uma dessas opções e deve fazê-lo agora. Depois, arque com as consequências. Sem desculpas. Sem negatividade. Sem poluição física. Mantenha limpo o seu espaço interior.

Se você tomar qualquer atitude, abandonando ou mudando a situação, livre-se primeiro da negatividade. Uma atitude originada no discernimento tem mais efeito do que uma originada na negatividade.

Uma atitude qualquer é muitas vezes melhor do que nenhuma atitude, especialmente se há muito tempo você está paralisado numa situação infeliz. Se for uma atitude errada, ao menos você aprenderá alguma coisa, caso em que deixará de ser um erro. Se você não agir, nada aprenderá. Será que o medo está evitando que você tome uma atitude? Admita o medo, observe-o, concentre-se nele, esteja totalmente presente. Isso corta a ligação entre o medo e o pensamento. Não deixe o medo nascer em sua mente. Use o poder do Agora. O medo não pode prevalecer sobre o agora.

Se não há mesmo nada a fazer e você não pode mudar a situação, então aceite o aqui e agora totalmente, abandonando toda a resistência interior. Assim, o falso e infeliz eu interior, que adora sentir-se miserável, ressentido ou com pena de si mesmo, não consegue mais sobreviver. Isso se chama rendição. A rendição não é uma fraqueza. Há uma grande força nela. Somente alguém que se rendeu tem poder espiritual. Através da rendição, você se livrará da situação internamente. É possível que você perceba uma mudança na situação sem que tenham sido necessários maiores esforços da sua parte. De qualquer forma, você estará livre.

Ou haverá algo que você “deveria” estar fazendo mas não está? Levante-se e faça agora. Ou, em vez disso, aceite totalmente a sua inatividade, preguiça ou passividade neste momento, se esta é a sua escolha. Mergulhe nela por inteiro. Desfrute-a. Seja tão preguiçoso ou inativo quanto puder. Se você fizer isso conscientemente, logo sairá dela. Ou talvez não. Em qualquer dos casos, perceba que não há nenhum conflito interior, nenhuma resistência, nenhuma negatividade.

Você está sofrendo de estresse? Pensa tanto no futuro que o presente está reduzido a um meio para chegar lá? O estresse é causado pelo estar “aqui” quando se deseje estar “lá”, ou por se estar no presente desejando estar no futuro. É uma divisão que corta a pessoa por dentro. Criar e viver com essa divisão é insano. O fato de que todas as pessoas no mundo estão agindo assim não torna ninguém menos insano. Se você não pode fugir disso, tem de se movimentar rápido, trabalhar rápido, ou até mesmo correr, ou seja lá o que for fazer, faça sem se projetar no futuro e sem resistir ao presente. Quando se movimentar, trabalhar e correr, ou qualquer outra coisa, faça tudo por inteiro. Desfrute o fluxo de energia, a alta energia desse momento. Fazendo isso, estando totalmente imerso no Agora, não há mais estresse, não há mais divisão por dois, apenas o movimento, a corrida, o trabalho. Desfrute essas atitudes. Ou você também pode abandonar tudo e se sentar num banco do parque, por exemplo. Mas, ao fazê-lo, observe a sua mente. Pode ser que ela diga: “Você devia estar trabalhando. Está perdendo o seu tempo”. Observe a mente. Sorria para ela.

O passado toma uma grande parte da sua atenção? Você freqüentemente fala e pensa sobre ele, tanto de forma positiva quanto negativa? As grandes coisas que você conquistou, suas experiências e aventuras, ou as coisas horrorosas que lhe aconteceram, ou talvez que você fez a alguém? Será que seus pensamentos estão gerando culpa, orgulho, ressentimento, raiva, arrependimento ou autopiedade? Então, você está não só dando mais força ao falso eu interior, como também ajudando a acelerar o processo de envelhecimento do seu corpo através da criação de um acúmulo de passado na sua psique. Constate isso observando à sua volta aquelas pessoas que têm uma forte tendência para se apegar ao passado.

Morra para o passado a cada instante. Você não precisa dele. Refira-se a ele apenas quando ele for totalmente relevante para o presente. Sinta o poder do momento presente e a plenitude do Ser. Sinta a sua presença.

Você tem preocupações? Tem muitos pensamentos do tipo “e se”? Você está identificado com a mente, que está se projetando num futuro imaginário e criando o medo. Não há como enfrentar tal tipo de situação, porque ela não existe. É um fantasma mental. Você pode parar com essa insanidade que corrói a saúde e a vida aceitando simplesmente o momento presente. Perceba a sua respiração. Sinta o ar entrando e saindo do seu corpo. Sinta o seu campo interno de energia. Tudo com o que você sempre teve que lidar, tudo que teve de enfrentar na vida real, em oposição às projeções imaginárias da mente, é o momento presente. Pergunte-se qual é o seu problema neste exato momento, não no ano que vem, ou amanhã ou daqui a cinco minutos. O que está errado neste exato momento? Você pode sempre enfrentar o Agora, mas não pode jamais enfrentar o futuro, nem tem de fazer isso. A resposta, a força, a atitude certa estarão à sua disposição quando você precisar, nem antes, nem depois. Elas existem no Agora.

“Algum dia vou fazer isso...”. Seu objetivo está tomando de tal modo a sua atenção que o momento presente é apenas um meio para atingir um fim? Está consumindo a alegria das coisas que você faz? Você está esperando para começar a viver? Se você desenvolver esse tipo de padrão mental, não importa o que você adquira ou alcance, o presente nunca será bom o bastante. O futuro sempre parecerá melhor. Uma receita perfeita para uma insatisfação permanente, você não acha?

Você está sempre “esperando” alguma coisa? Quanto tempo da sua vida você passou esperando? Chamo “espera de pequena escala” à espera na fila do correio, num engarrafamento de automóveis, no aeroporto, por alguém que vai chegar, um trabalho que precisa ser terminado, etc. Chamo de “espera em grande escala” à espera pelas próximas férias, por um emprego melhor, pelos filhos crescerem, por uma relação verdadeiramente significativa, pelo sucesso, para ficar rico, para ser importante, para se tornar iluminado. Não é raro que as pessoas passem a vida toda esperando para começar a viver.

Esperar é um estado mental. Significa basicamente desejar o futuro e não querer o presente. Você não quer o que conseguiu e deseja aquilo que não conseguiu. Em qualquer dos tipos de espera você, inconscientemente, cria um conflito interior entre o seu aqui e agora, onde você não quer estar, e o futuro projetado, onde você quer estar. Essa situação reduz grandemente a qualidade da sua vida ao fazer você perder o presente.

Não há nada de errado em nos empenharmos para melhorar a nossa situação de vida. Podemos melhorar a situação da nossa vida, mas não podemos melhorar a nossa vida. A vida é básica. Ela é eterna, é garantida. Ela já deu certo, só em existir e estar inteiramente á sua disposição.

A vida é o Ser interior mais profundo. É um todo, completo, perfeito. A nossa situação de vida se constitui das nossas circunstâncias e experiências. Não há nada de errado em estabelecermos metas e nos empenharmos para conseguir bens. O erro reside em usar isso como um substituto para o sentimento da vida, para o Ser. O único ponto de acesso a isso é o Agora. Agimos, assim, como um arquiteto que não dá atenção às fundações de uma construção, mas que gasta um bom tempo trabalhando na superestrutura.

Por exemplo. Muitos de nós estamos à espera da prosperidade. Ela pode não acontecer no futuro. Quando respeitamos, admitimos e aceitamos completamente a realidade do presente – onde estamos, quem somos, o que estamos fazendo agora –, quando aceitamos o que temos, significa que estamos agradecidos pelo que conseguimos, pelo que é, pelo Ser. A gratidão pelo momento presente e pela plenitude da vida atual é a verdadeira prosperidade. Não está no futuro. Então, no tempo certo, essa prosperidade se manifesta para nós de várias maneiras.

Se você não encontra satisfação nas coisas que possui, se tem um sentimento de frustração ou de aborrecimento por não ter tudo o que quer no presente, isso pode levá-lo a querer enriquecer, mas, mesmo que consiga milhões, continuará a ter uma sensação de que falta alguma coisa. Talvez o dinheiro lhe compre muitas experiências excitantes, embora passageiras, deixando sempre uma sensação de vazio e estimulando uma necessidade de gratificação física ou psicológica ainda maior. Você não vai se conformar em simplesmente Ser e, assim, sentir a plenitude da vida agora – a verdadeira prosperidade.

Portanto, desista da espera como um estado da mente. Quando você se vir escorregando para a espera... pule fora. Venha para o momento presente. Apenas seja e aprecie ser. Quando estamos presentes, nunca precisamos esperar por nada. Portanto, da próxima vez que alguém disser “desculpe por ter feito você esperar”, sua resposta pode ser: “Está tudo bem, não estava esperando. Estava aqui contente comigo, com meu eu interior”.

Essas são apenas algumas das estratégias comuns da mente para negar o momento presente já incorporadas à inconsciência comum. São fáceis de passar despercebidas porque já estão entranhadas em nosso modo de vida, como o ruído de fundo do nosso eterno descontentamento. Mas, quanto mais você praticar o monitoramento do seu estado interior emocional e mental, mais fácil será perceber em que momento você foi capturado pelo passado e pelo futuro, bem como despertar da ilusão do tempo dentro do presente. Mas tenha cuidado porque o eu interior falso e infeliz, baseado na identificação com a mente, vive no tempo. Ele sabe que o presente significa sua própria morte e sente-se ameaçado. Fará tudo para afastar você do Agora. Tentará manter você preso ao tempo.

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O Poder do Agora 
Eckhart Tolle

9 de junho de 2014

Despertando o mundo


Pergunta a Osho:
Quando o mundo adormeceu? E está ele despertando?


Ele tem estado sempre adormecido. Somente uns poucos indivíduos em toda a história do homem têm estado despertos. Seus nomes podem ser contados nos dez dedos, não mais que isso. E isto foi natural: o homem evoluiu dos animais.

Os animais estão em um sono profundo, eles não sabem que eles são.Este é o significado de sono - se é, mas não se está consciente de que se é. Nenhum animal está consciente de si mesmo.

E eu concordo com Charles Darwin, em bases diferentes... Suas bases são ordinárias, mundanas; podem ser criticadas, têm sido criticadas. De fato, ele não é mais um cientista aceito quanto à evolução da humanidade. A maioria dos cientistas tem desertado dele. Mas eu estou no seu apoio em uma base totalmente diferente.

Minha base é: olhando para o sono do homem -  esta é a única possibilidade: que ele cresceu a partir dos animais - macacos, chimpanzés. Seja o que for, seja quem for, estava lá no começo. O sono do homem prova isso.

E somente raramente, uma vez ou outra - um Gautama Buda, um Bodidarma, um Sócrates - uma vez ou outra tem existido um homem que tem a coragem de sair do sono. É preciso tremenda coragem para sair do sono, porque nós temos investido muito no sono. É como um homem que está sonhando que está vivendo em um palácio dourado - com um grande reino, com todo o luxo - e você tenta acordá-lo.

Ele é somente um mendigo na rua. Somente mendigos sonham ser imperadores. Imperadores nunca sonham ser imperadores, isso seria simplesmente ilógico. O mendigo tem tanto investimento no seu sono e sonho, que ele irá resistir de todas as maneiras possíveis, para não ser acordado. Ele ficará irritado. Ele se oporá a você. "Quem é você para interferir na minha vida? Não pode você ao menos tolerar um homem que está tendo um lindo sonho?"

E mesmo se forçá-lo a despertar ele irá cair no sono novamente, porque acordado ele é somente um mendigo, adormecido ele torna-se um imperador. O investimento em sono psicológico é tremendo.
É por isso que todas essas pessoas - Gautama Buda, Bodidarma, Chuang Tzu, Plotinus, Heráclitus - todos eles falharam. Eles fizeram o seu melhor. Eles lutaram contra o sono do homem, mas, ainda, o homem está adormecido, e o que quer que ele faça prova que ele está adormecido.

Estas duas Guerras Mundiais provam que ele está adormecido. A vindoura Terceira Guerra Mundial pode ser evitada somente se nós pudermos despertar pessoas suficientes então estas pessoas tornam-se contagiantes e seguem despertando outras pessoas em uma corrente e isso tem que ser feito bem rápido, porque não há muito tempo.

De outra forma, as pessoas adormecidas irão destruir esta terra, esta vida. Os políticos estão adormecidos. Nenhuma pessoa desperta pode tornar-se um político pela simples razão de que ela não pode mentir, ela não pode lhe fazer promessas que ela sabe que nunca poderão ser cumpridas. Nenhuma pessoa desperta será um político, porque ela não tem nenhum desejo para preencher seu ego. Não há mais ego.

O ego existe como um eu substituto no sono. No momento em que você está desperto o ego não tem mais função, é desnecessário. Você está lá, agora você não precisa dele. E o homem que conhece a si mesmo não tem complexo de inferioridade. 

A não ser que você esteja sofrendo de algum complexo de inferioridade, você não se envolverá em qualquer tipo de liderança - política, religiosa, social. Você não tem a base. O complexo de inferioridade é a causa de todos se tornarem ambiciosos, porque se eles não se tornarem alguém no mundo, então, aos seus próprios olhos, eles terão fracassado.

Eles querem provar-se, provar que "nós estamos aqui!", que "nós temos estado aqui!". Eles querem ter gravados seus nomes na História - embora saibam que mesmo os grandes nomes da História pouco a pouco vão deslizando da proeminência; tornam-se notas de rodapé, movem-se para o apêndice e porta afora.

Naturalmente, quantas pessoas podemos seguir carregando? Mas eles querem fazer seus nomes. Isto também prova ser algo animal. Todos os animais no mundo têm um instinto. Os cientistas chamam-no o imperativo territorial.

O cachorro mijando na árvore está simplesmente fazendo a sua assinatura. Ele está dizendo: "esta árvore me pertence". Ele não permitirá que outro cachorro se aproxime. Outros cachorros sentirão o cheiro da sua urina e saberão que esta árvore não está livre, não está disponível, alguém a possui. Existem animais que seguirão - particularmente o leão - urinando em um vasto território, somente para que todos fiquem avisados.

O homem também funciona da mesma maneira. Todas estas nações são nada mais que pessoas mijando e  fazendo fronteira. "Isto é a América, isto é a União Soviética, isto é a Índia! Você pode cheirar é um país diferente; não entre sem um visto, sem um passaporte".  Caso contrário, não há necessidade de qualquer nação na terra. Qual a necessidade? Podemos viver como uma humanidade?

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Osho, em "O Último Testamento"

16 de maio de 2014

O paradoxo da experiência religiosa


Eu ouvi dizer..

Um grande Mestre Zen, Sozan, foi interrogado para explicar o ensinamento derradeiro de Buda. Ele respondeu: “Você não irá entendê-lo antes de tê-lo.” Mas, então, qual é o ponto de compreendê-lo? Quando você o tem, você o tem; não há necessidade de compreendê-lo. Quando você não o tem, não pode compreendê-lo, e existe a necessidade de compreendê-lo. Este é o paradoxo: você pode entendê-lo somente quando tem.

Não há jeito de entendê-lo antes de tê-lo; somente a experiência o explicará para você. Nada mais pode fazer este trabalho, nenhum substituto é possível. Mas, então, não há necessidade — quando você tem, você tem. Quando está lá, está lá. Não há nem mesmo um desejo de compreendê-lo; aconteceu, você conheceu, tornou-se você. Exatamente como quando você come: quando você come, não se torna a comida. Você já observou? Do contrário, você teria se tornado uma banana. Você come uma banana; você não se torna uma banana, a banana transforma-se em você.

E exatamente o mesmo acontece quando você conheceu Deus: Deus se toma você. Quando você conheceu a verdade, a verdade torna-se você; digerida, ele corre no seu sangue, toma-se os seus ossos, torna-se o seu tutano, torna-se a sua presença. Não há necessidade de compreendê-la. De fato, não há ninguém para compreendê-la, ninguém é deixado para trás, você tornou-se ela. A sua compreensão tomou-se ela. A necessidade existe porque não compreendemos. Então, continuamos a procurar explicações, e nenhuma explicação pode ser dada.

Este é o paradoxo da experiência religiosa: aqueles que conhecem não precisam de nenhuma compreensão sobre ela. Eles estão tremendamente contentes conhecendo-a; é mais do que suficiente. Eles podem dançar, podem cantar, podem rir, mas não estão, de maneira alguma, procurando explicá-la. Eles podem vivê-la, podem ficar quietos sobre ela - podem sentar silenciosamente ou podem tomar-se loucamente extasiados com ela — mas não se incomodam em explicá-la.

Esta é a razão pela qual todas as grandes escrituras do mundo: os Upainishads, o Tao te Ching, os dizeres de Jesus, o Dhammapada de Buda, são simplesmente colocações, não explicações. Os Upanishads não provam Deus, eles simplesmente afirmam; eles dizem: É assim. Não é um argumento. Não estão propondo nenhuma hipótese, estão simplesmente declarando: É assim. É uma declaração. Não produzem nenhuma prova de porque eles declaram isto, porque declaram que existe. Eles simplesmente dizem: E assim — pegue ou deixe, mas é assim. E não há necessidade de nenhuma prova: eles são a prova.

Mas, para aqueles que ainda estão na noite escura da alma, tropeçando, tateando, alguma explicação é necessária. Estará muito, muito longe da verdade, será uma mentira — mas, ainda assim, é necessária.

Então, os místicos falam. Eles têm que falar, têm que derramar os seus seres, sabendo que isto pode ajudar uns poucos. Ajuda somente umas poucas pessoas. Ajuda somente aquelas pessoas que estão prontas para confiar — do contrário, nunca ajudam. Se você argumenta, está perdido — porque um místico não pode argumentar, não pode convencê-lo.

Nesse sentido, o místico é muito frágil. Nesse sentido, logicamente, ele é muito frágil: ele não pode argumentar e não pode provar. Você pode chegar perto dele, pode sentir o seu ser, pode olhar nos seus olhos, pode pegar na sua mão, pode apaixonar-se no seu amor, pode confiar neste homem louco, o místico pode ir com ele numa jornada desconhecida. Será uma corajosa aventura de confiança. Se você duvida, de repente, é cortado. Se você duvida, então, não há nenhuma possibilidade de uma ponte. A pessoa tem que confiar.

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Osho, em "O Caminho do Amor: Discursos Sobre as Canções de Kabir"

8 de maio de 2014

Meditar reduz o estresse e afasta doenças; veja mitos e verdades


Meditar está deixando de ser uma prática restrita à turma "zen" para se tornar uma opção para quem quer viver mais e melhor. Até executivos têm buscado a prática para ganhar produtividade.

Há alguns anos, o National Institutes of Health (NIH), agência dos Estados Unidos responsável por pesquisas médicas, reconheceu formalmente a meditação como terapêutica que pode ser associada à medicina convencional. Aqui, o Ministério da Saúde foi pelo mesmo caminho e passou a incentivar postos de saúde e hospitais públicos a oferecer a técnica em todo o país.

Uma das maiores vantagens da atividade é promover o relaxamento físico, mental, emocional e metabólico. Durante a sessão, o organismo consome 17% menos oxigênio, o ritmo cardíaco diminui e as ondas cerebrais alcançam uma frequência lenta e benéfica. Isso significa que o organismo entra em um estado de repouso, baixando a ansiedade e favorecendo o sistema nervoso.


Mais meditação, menos consultas

O cardiologista americano Herbert Benson, pesquisador e fundador-presidente do Instituto Mente/Corpo da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard (EUA), afirma que 60% das consultas médicas poderiam ser evitadas se as pessoas apenas usassem a mente para combater as tensões causadoras de complicações físicas.

"Relaxando a cabeça e trabalhando melhor a oxigenação do cérebro, tudo melhora", afirma Ken O'Donnel, australiano radicado no Brasil, diretor para a América do Sul da Brahma Kumaris (organização não-governamental com sede na Índia) e escritor de 15 livros.

A meditação também promove paz interior e abre os canais para que o indivíduo encontre o que há de mais profundo nele próprio, levando ao autoconhecimento. No livro "Transformando a Mente", o líder espiritual Dalai Lama explica que a prática nos permite ter algum controle sobre pensamentos e emoções. Em vez de ficar correndo atrás disso ou daquilo sem concentrar a atenção, alcançamos a capacidade de voltar a mente para um objeto determinado e focamos nele, de acordo com nossa vontade.


Várias correntes

Basicamente, conta O'Donnel, há três correntes de meditação: a primeira, como a zen, busca esvaziar a cabeça usando exercícios de respiração e outras técnicas para reduzir a atividade mental a zero; a segunda, que inclui a transcendental, ocupa a mente com sons repetidos, imagens ou visualizações; o último grupo, que abarca a "raja" ioga, treina o cérebro para funcionar de maneira mais ordenada e positiva.

"De maneira geral, as três linhas englobam todas as formas que hoje estão aí. A mente é como um campo de futebol: as duas primeiras reduzem ao máximo a atividade neste campo, desestimulando pensamentos, sentimentos, sensações e lembranças; a terceira não objetiva esvaziar ou substituir, mas tornar a compreensão parte do funcionamento normal do cérebro."

Antes de optar por esta ou aquela corrente, é importante saber o que se busca e, claro, dedicar-se à prática de maneira regular. Isso significa pelo menos duas sessões diárias, de 15 a 20 minutos. Vale lembrar que a transcedental não tem cunho religioso ou espiritual. Basta se sentar (e não precisa ser nem em posição de lótus) e meditar. 

Nas diferentes academias de meditação e ioga, você vai encontrar alguns tipos com nomes como Dinâmica, Kundalini, Mandala, Vipassana - vale experimentar para ver qual tem mais a ver com você. 


Mente clara, menos estresse

"A meditação tem como objetivo o estado de união com algo maior", acredita Paulo Sérgio Oliveirah, pós-graduado em Psicologia Transpessoal, consultor e psicoterapeuta, professor de "hatha", "raja" ioga e iogaterapia.

Para Ken O'Donnel, aprendemos a pensar menos e melhor com a prática. "A mente aberta passa a ter intuições com mais frequência. O poder de concentração e de compreensão igualmente aumentam, e a vida flui naturalmente. Na hora das decisões importantes, há clareza sobre o que fazer. Os relacionamentos são beneficiados; não se despeja muita expectativa e cobrança sobre o outro. A despreocupação – não o descuido – cresce junto com a autoconfiança. Tudo isso traz bem-estar e qualidade de vida."

O'Donnel diz que são quatro os níveis de estresse: no primeiro, há uma ansiedade leve, e muitos o consideram algo saudável, pois torna a pessoa motivada (para, por exemplo, correr atrás de uma promoção no trabalho); no segundo, o nervosismo é contínuo e há queixas de sobrecarga e angústia frequentes; no terceiro, o estresse crônico traz resultados negativos e explícitos, como irritabilidade e manifestações somáticas (dor de cabeça relacionada à tensão); já no quarto nível, o indivíduo se sente exausto o tempo todo, tanto física como emocionalmente, perdendo o sentido de autorrealização e ganhando sintomas graves que requerem ajuda médica.

"A meditação ameniza o estresse em todos os patamares por dois motivos: cria mais resistência e resiliência, especialmente em situações adversas e diante de pessoas com personalidades difíceis; e auxilia na compreensão do que está acontecendo à volta, reduzindo o peso das situações", analisa O'Donnel.


Conheça alguns mitos e verdades sobre meditação

Só há uma forma de meditação. MITO: "Geralmente é uma surpresa para as pessoas descobrir que há muitas formas diferentes de meditar, com propósitos extremamente variados", diz o consultor e escritor Ken O"Donnel, explicando que a maioria teve sua origem nas tradições religiosas - como a zen, que veio da meditação budista. "Praticamente todas incluem os fundamentos de reflexão e o uso da mente para criar estado de quietude e senso de bem-estar". Elas podem ser empregadas para promover o relaxamento, desenvolver a força vital, emergir virtudes como a compaixão e a tolerância e incrementar o poder de concentração. "Trata-se de uma ferramenta excelente de autotransformação, influenciando inclusive aspectos bem arraigados de caráter, que outras terapias não conseguem modificar"

Quem medita lida melhor com o estresse. VERDADE: embora a meditação exista há milhares de anos, sendo desenvolvida em uma época em que a palavra estresse nem existia, sem dúvida a prática tem um efeito imediato em reduzi-lo. "Isso acontece porque uma das metas da maioria das formas de meditação é baixar a quantidade de pensamentos inúteis ou negativos", destaca Ken O"Donnel, australiano radicado no Brasil desde 1979 e diretor para a América do Sul da ONG Brahma Kumaris. Ele diz que para entender como este mecanismo funciona é preciso ter em mente que o estresse é definido como a incapacidade de lidar com aquilo que acontece à nossa volta.

O recurso aumenta as defesas do organismo. VERDADE: segundo estudo realizado pela Universidade da Califórnia (EUA), quem medita tem as defesas do corpo ampliadas porque, durante a prática, a enzima telomerase, ligada ao sistema imunológico e responsável por promover a longevidade nas células, é favorecida por uma ação intensificada. Ocorre, ainda, menos gasto de oxigênio pelas células, reduzindo a frequência cardíaca. A pesquisa analisou 60 pessoas, durante três meses, metade fazendo meditação e a outra metade não. As taxas de telomerase ficaram 30% mais elevadas no primeiro grupo, beneficiado por aumento na capacidade psíquica, melhora na percepção de controle e atenção e diminuição da neurose e de emoções negativas.

A meditação é capaz de aumentar a capacidade psíquica. VERDADE: de acordo com pesquisadores da Universidade de Pensilvânia (EUA), a ação aumenta a atividade na região frontal do cérebro, responsável pela concentração, abstração e atenção. "Há 1.440 minutos em 24 horas. Se descansamos diariamente 440 minutos, sobram 1.000 minutos para as atividades da vida. Uma mente fragmentada é capaz de produzir algo a cada dois segundos - pensamentos, sensações, sentimentos, recordações, fantasias. Isso dá 30.000 pedacinhos por dia - a maioria, improdutivos. Estudos mostram que a atividade mental cansa mais do que a atividade física. Um dia de preocupação é mais exaustivo do que um dia de passeio, por exemplo. O primeiro impacto da meditação é reduzir este número de pedacinhos: com uma mente livre, a percepção aumenta e é possível fazer melhores escolhas. Em resumo, o futuro se torna mais claro", analisa Ken O"Donnel, senior fellow com a Oxford Leadership Academy (Inglaterra), que trouxe a filosofia da meditação "raja" ioga para o Brasil. "Já foi comprovado cientificamente que novas sinapses são criadas no cérebro, ativando áreas e proporcionando o desenvolvimento de habilidades e talentos", complementa Paulo Sérgio Oliveirah, pós-graduado em Psicologia Transpessoal, consultor e psicoterapeuta.

Alterações fisiológicas ocorrem no organismo com a meditação. VERDADE: no cérebro se dá a ampliação das ondas cerebrais relacionadas ao relaxamento. Há, ainda, redução do metabolismo e desaceleração do funcionamento do corpo, com menos gasto de oxigênio pelas células, queda da frequência cardíaca e diminuição da condutância (capacidade que um meio tem de conduzir eletricidade) elétrica da pele. "Tudo isso tem um efeito positivo cardiovascular", salienta Ken O"Donnel, acrescentando que a meditação transcendental incrementa as áreas do córtex cerebral que participam de informações específicas e favorece a percepção funcional entre os dois hemisférios. "Os níveis mais baixos das frequências cardíaca e respiratória levam a maior estabilidade do sistema nervoso autônomo, o que permite respostas reflexas (reação corporal imediata à estimulação) mais rápidas". E isso sem falar no aumento da concentração dos neurotransmissores dopamina, norepinefrina e serotonina, dando maior sensação de prazer, motivação e energia.

A meditação traz bem-estar, mas não tem influência sobre a saúde propriamente dita. MITO: pesquisadores da Harvard Medical School (EUA) descobriram que, em praticantes de longa data de meditação e ioga, mais genes de combate a doenças estavam ativos, em comparação com aqueles que não faziam nenhum tipo de relaxamento. "Especificamente, encontraram genes que protegem contra a dor, a infertilidade, a pressão sanguínea elevada e a artrite reumatoide", considera Ken O"Donnel, diretor para a América do Sul da ONG Brahma Kumaris. Outro estudo, feito durante três anos com mais de 500 pacientes com problemas cardíacos no Hospital Global da Brahma Kumaris em Mount Abu, Índia, mostrou que o tripé meditação, dieta vegetariana e exercícios trouxe vários benefícios: melhoria nos sintomas de angina, falta de ar e palpitações, favorecimento de parâmetros psicológicos, redução de drogas necessárias para gestão de angina, hipertensão e diabetes e abertura significativa dos bloqueios coronários. "A prática leva a mais estado de presença (estar no presente), menos ansiedade (não se preocupar com o futuro) e diminuição da culpa (permanecer no passado)", completa o psicoterapeuta Paulo Sérgio Oliveirah, professor de "hatha", "raja" ioga e iogaterapia. Além de retardar o envelhecimento, a atividade garante qualidade de vida a portadores de enfermidades graves e auxilia na redução do consumo de cigarro, álcool e outras drogas.

A meditação beneficia quem tem câncer. VERDADE: comparada aos efeitos produzidos apenas por medicamentos, a meditação transcendental diminuiu em 49% as mortes por câncer, em 30% as decorrentes de problemas cardiovasculares e em 23% as provocadas por doenças em geral. O estudo, publicado no periódico "American Journal of Cardiology", durou 18 anos e foi feito com 202 homens e mulheres idosos e hipertensos que se dedicaram à prática duas vezes por dia, durante 20 minutos. "Já está mais do que comprovado que a meditação reflete diretamente a melhoria da saúde como um todo", alega Paulo Sérgio Oliveirah, pós-graduado em psicologia transpessoal.

A meditação transcendental é a mais recomendada. MITO: "Não há um tipo mais recomendado", replica o psicoterapeuta Paolo Sérgio Oliveirah, acrescentando que, para quem está começando, é interessante escolher as mais rápidas e simples, "para depois procurar aquela com que mais se identifica". O consultor Ken O"Donnel concorda e esclarece que a transcendental se refere a uma forma específica com mantras (frases sagradas) que, por ser muito difundida, tem seus efeitos mais pesquisados. "Ela foi introduzida na Índia nos anos 1950 e, no ocidente, a partir dos anos 1960. Mas todos os tipos de meditação trazem benefícios porque diminuem a carga de pensamentos de ansiedade e tristeza e melhoram a atividade mental, sendo muitas as possibilidades". Importante: antes de optar por esta ou aquela corrente, é importante saber o que se busca e, claro, se dedicar à prática de maneira regular. Isso significa pelo menos duas sessões diárias, de 15 a 20 minutos.

A prática tem poder para curar todos os males. MITO: feita de forma séria e regular, pode ajudar a reduzir e eliminar doenças, mas não é capaz de curar todos os males. "Qualquer enfermidade ou mal-estar tem várias influências - hereditariedade, meio ambiente, predisposição psicológica, tipo de trabalho e alimentação, rotina de exercício físico. Há causas espirituais, fisiológicas e emocionais em toda perda de um estado saudável. Por isso, o máximo que se pode dizer é que a meditação bem realizada reduz a ansiedade e o sofrimento que afetam os diversos sistemas do corpo - imunológico, endócrino, nervoso e muscular. As razões entre a quantidade de pensamentos e a saúde do organismo é bem documentada. Se, pela meditação, a pessoa é capaz de melhorar sua forma de pensar, isso traz benefícios enormes para a saúde", reflete Ken O"Donnel, australiano radicado no Brasil desde 1979, diretor para a América do Sul da Brahma Kumaris.

Um dos maiores benefícios é diminuir o estresse. VERDADE: especialmente se pensarmos que na origem de grande parte dos distúrbios está o problema. Tal desequilíbrio do sistema nervoso afeta a parte hormonal, por exemplo, inflamando as artérias - o que leva à hipertensão e pode resultar em derrames e ataques cardíacos. A meditação transcendental, objeto de muitos estudos, contribuiria para evitar o acúmulo de placas gordurosas nas artérias do coração, evitando a aterosclerose. "O melhor caminho para curar o estresse é a meditação", resume o consultor e psicoterapeuta Paulo Sérgio Oliveirah.

Em alguns casos, a meditação pode substituir medicações. VERDADE: "Se o indivíduo sente bem-estar, certamente recorrerá menos a remédios. Mas é importante deixar claro que a prática deve ser vista como auxiliar no tratamento. Para quem tem doenças físicas ou psíquicas sérias, é imprescindível continuar com as medicações prescritas", adverte Ken O"Donnel, consultor e escritor.

"Quem canta, seus males espanta"; quem medita, também. VERDADE: a ideia de que atraímos o que somos não é algo novo. "Um exemplo é o respeito a si próprio: o estado de bem-estar que a meditação traz tende a gerar este senso de forma muito forte. A autoconfiança origina, então, confiança, favorecendo relacionamentos mais honestos", reflete Ken O"Donnel, diretor para a América do Sul da Brahma Kumaris. O professor e psicoterapeuta Paulo Sérgio Oliveirah complementa com uma brincadeira: "Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come. Mas, se medita, o bicho some - ou vira apenas um bichinho de estimação. Acho que a ideia ajuda a explicar o que é a meditação".

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Fonte: UOL Notícias Saúde




7 de março de 2014

Como levar a sua vida levemente


Uma mente carregada pode arrebatar alguns momentos de prazer breves e passageiros, mas não pode experimentar verdadeira felicidade. Permanecer sempre leve é a chave da felicidade. Nas condições de hoje, a habilidade para levar a si mesmo e tudo ao seu redor, de maneira despreocupada, talvez seja a capacidade principal a ser cultivada. Há uma necessidade vital para desenvolver os poderes internos a fim de "tornarem as coisas fáceis", venha o que vier.

Compreende-se perfeitamente que o estado da mente de uma pessoa depende da sua atitude em relação às pessoas e objetos presentes e aos eventos que acontecem ao seu redor. Também há uma declaração famosa que diz: “Você não pode mudar os fatos, mas pode mudar sua atitude em relação a eles.” Contudo, quando situações reais surgem, a mudança de atitude é difícil por causa da opinião já formada.

A atitude é determinada por orgulhos e preconceitos, desejos e ambições, prioridades e preferências, necessidades e compulsões. Estas, em troca, são influenciadas por hábitos e vícios, aprendizagens e dependências, crenças e perspectivas, caprichos e fantasias e vários outros fatores. Pré-disposições assim formadas produzem certos puxões e empurrões mentais que determinam respostas e reações às situações externas. Essa é a razão pela qual atitudes para o mesmo acontecimento variam de pessoa para pessoa. Novos paradigmas surgem a fim de quebrar velhas opiniões e criar capacidades internas que podem automaticamente cuidar de qualquer coisa que venha ao seu caminho.

A primeira mudança de atitude fundamental para permanecer “leve” é sempre tomar uma firme resolução de permanecer assim. Aquilo que você pensa, você se torna. A palavra “leve”, no sentido espiritual, também significa a iluminação que dispersa a escuridão interna de ignorância, ilusão, dúvida e confusão. Isso lhe permite visualizar coisas em sua verdadeira forma. Como resultado, o engano é eliminado. Confiança e clareza mudam as condições de medo e ansiedade para aquelas de alegria e felicidade. Disso segue a segunda mudança de atitude: considere a vida como uma celebração e não como uma luta ou zona de guerra. Saudações e bons desejos trocados em celebrações sempre são fonte de grande alegria e felicidade. Igualmente, esse é o modo mais fácil para se transformar em alguém que tem bons sentimentos por todos e tornar a sua vida uma celebração.

Na raiz de sua atitude encontram-se suas crenças. A maior falha básica e comum nas crenças de hoje em dia é a consciência de corpo, isto é, identificar-se com o corpo mortal ao invés da entidade imortal chamada “alma” que você verdadeiramente é. Essa crise de identidade é a mãe de todas as outras crises. O seu eu eterno - a alma - é uma entidade sensível, um ponto imperecível de luz. Suas qualidades inatas originais são amor, paz, felicidade e contentamento. Contanto que você permaneça estabelecido no estado de consciência da alma e use seu corpo como um instrumento, você permanecerá leve porque, primeiramente, sua existência é essa de ser luz sensível e, segundo, seus pensamentos, palavras e ações estarão em conformidade com suas qualidades inatas.

Como é feito de matéria, o corpo e seus órgãos do sentido podem dar somente prazeres sensuais temporários e dependentes de fatores externos. A consciência de corpo conduz à adoção de valores materiais que afetam a mente, destruindo a pureza primitiva de suas qualidades inatas e, na realidade, todo o processo de pensamento. Como resultado, ciúme, ódio, raiva e outros tipos de negatividade conduzem a pensamentos despidos de virtudes e ações erradas. A negatividade produz desperdício de pensamentos e aumenta o número e a velocidade destes. Isso dilui a qualidade de pensamentos, e, por conseguinte, a qualidade de vida. O desperdício de pensamentos produz atitudes doentes como dúvidas, apreensões, medo, etc. e remove toda a vivacidade e ânimo na vida. Isso resulta em letargia e preguiça. Desse modo, a negatividade enfraquece a mente, que fica propensa a influências externas.

A auto-realização ou consciência da alma, por outro lado, traz para si a verdade de que as qualidades originais da alma como amor, paz, felicidade e contentamento são todas não- materiais, como a própria alma. Até mesmo as características negativas ou perversões como ego, raiva, ódio, ciúme ou as tensões e preocupações produzidas por esses vícios são não-materiais em natureza. Conseqüentemente, a ação corretiva exigida a esse respeito deve ser essencialmente levada ao nível de suas convicções básicas. Uma viagem interna é então um pré-requisito essencial para desfrutar uma viagem externa feliz através desta vida e além.
  
A auto-realização permite que você solte o passado facilmente. Em vez de lamentar, permite-lhe ganhar valiosa experiência por erros passados e aumentar seus poderes de tolerância e paciência. Quando a pessoa começa a aprender a partir dos erros, o significado de dizer “tudo acontece para o melhor" fica claro. Erros não são repetidos.  A atenção ajuda a evitar a tensão. A redução do desperdício de pensamentos melhora a qualidade dos mesmos.

A força de vontade é o agregado de todos os seus poderes internos como tolerância, discernimento, julgamento, concentração e cooperação. A vontade de uma pessoa com um bom reservatório de poderes internos sempre prevalecerá. Conseqüentemente, há a frase “Onde há vontade, há um caminho” (Where there is a will, there is a way). Uma firme força de vontade permite transformar uma situação de possível fracasso naquela de sucesso - exatamente como em um jogo de cricket, em que um bom batedor converte uma bola perigosa em um quatro ou seis por um mero estalido do seu bastão.
Uma enérgica força de vontade não somente o protege das influências adversas de fora, mas também o fortalece a mostrar influência no ambiente externo, da mesma maneira que sementes de rosas produzem rosas perfumadas mesmo num montão de lixo mau-cheiroso. Ânimo e entusiasmo são um resultado natural de sucesso e se torna, em troca, a força motriz para o sucesso adicional. Mover-se de sucesso em sucesso sempre o manterá em bons espíritos. Essa é a fórmula para permanecer leve e feliz sob todas as condições e circunstâncias.

Como aumentar a força de vontade? Não é um poder físico a ser adquirido por qualquer meio material. O pensamento inútil e negativo tem de ser eliminado para se aumentar a força de vontade. Porém, o dilema é que eles surgem quando a força de vontade está debilitada, considerando que dispensamos grande força de vontade para destruí-los. Assim, o que fazer nesse caso? Da mesma maneira que a negatividade reduz a força de vontade, é o pensamento positivo que a gera. Internalizar virtudes como humildade, satisfação, desapego e compaixão, um estilo de vida simples, boa companhia, pureza de comida e tornar-se alguém com bons sentimentos por todos, lhe ajudará a realizar isso.

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Brijmohan é editor do jornal Purity e Secretário da Rajayoga Educational Research Foundation.

11 de fevereiro de 2014

A essência dos ensinamentos de Buda

As coisas não continuam iguais durante dois momentos consecutivos; portanto, não existe nada que possa ser considerado como um eu permanente. Antes de você entrar na sala onde está agora, você era diferente tanto física como mentalmente.

Ao saber que a pessoa que amamos é impermanente, daremos mais valor a ela. A impermanência nos ensina a valorizar cada momento de nossa vida, bem como todas as coisas que estão ao nosso redor e dentro de nós.

Buda, Jesus e todos os outros grandes Mestres não morreram. O Buda não pode estar confinado a 2.600 anos. A flor não está limitada à sua breve manifestação. Tudo se manifesta por meio de imagens. Se ficarmos presos às imagens, sempre teremos medo de perder as manifestações específicas.

Você não precisa morrer para entrar no Nirvana, nem no reino de Deus. Você só precisa ter um contato profundo com o momento presente, agora mesmo.

Nossos conceitos sobre as coisas nos impedem de entrar em contato com elas. Um ser verdadeiro é uma coisa muito diferente de um conceito. Observe profundamente para ser capaz de vencer a distância que existe entre seu conceito da realidade e a realidade em si. A meditação é uma ferramenta que nos ajuda a eliminar os conceitos. A atenção plena nos ajuda a resgatar o paraíso que julgávamos perdido.

Um buda é alguém que vive em paz, alegria e liberdade; alguém que não tem medo nem está apegado a nada. Durante os últimos meses de vida do Buda, ele sempre ensinava: “Refugiem-se em si mesmos e não em outras coisas. Não saiam buscando coisas que estão longe. Tudo o que precisam está em seus próprios corações. Sejam como ilhas em si mesmos”

Todas as vezes que damos um passo consciente, temos a oportunidade de sair da terra da tristeza para a terra da alegria. O Reino de Deus é uma semente dentro de nós. Pratiquem a travessia para a outra margem sempre que sentirem necessidade.

O primeiro e principal fator do despertar é a atenção plena, o que significa “recordar-se”, não esquecer onde estamos, o que estamos fazendo. A atenção plena sempre surge dentro do contexto do relacionamento com nós mesmos, com as outras pessoas e com as coisas. Quando estamos treinados pela prática, cada vez que inspiramos e expiramos, a atenção plena surge, o que transforma a respiração em causa e condição para o aparecimento da atenção plena.

O despertar está sempre disponível, ao nosso alcance. Só precisa de condições favoráveis. O sol está lá, mesmo quando escondido pelas nuvens.

Para transformar o inferno no paraíso, precisamos mudar a mentalidade na qual nos baseamos. Imaginem mil pessoas que não tenham percepções errôneas, raiva nem inveja, mas que tenham amor, compreensão e felicidade. Se essas pessoas se juntam, formando uma comunidade, será um paraíso. As mentes das pessoas é que são a base do paraíso.  Com sua mente iludida, você transforma a sua vida em inferno, mas com a mente verdadeira, você cria o paraíso.

Precisamos de locais onde possamos nos sentar, respirar calmamente, olhar para dentro de nós e também escutar. Quando temos dificuldades em casa, precisamos de um quarto, onde possamos nos refugiar. Também necessitamos de parques e outros locais tranqüilos para praticar a meditação andando, a sós ou em companhia de outras pessoas.

Precisamos do sofrimento para conseguir enxergar o caminho. A origem da dor, a cessação do sofrimento e o caminho que leva à cessação do sofrimento são todos encontrados no âmago do sofrimento. Se tivermos medo de entrar em contato com o nosso sofrimento, não conseguiremos percorrer o caminho da paz, da alegria e da liberação. Não fuja. Entre em contato com o seu sofrimento e abrace-o. Faça as pazes com ele. O Buda disse: “No instante em que você sabe como o seu sofrimento surgiu, já está a caminho de se libertar dele”. Se você tem consciência do que acontece, e como isso chegou a acontecer, já está a caminho da libertação.

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Thich Nhat Hang (Monge budista, pacifista e escritor vietnamita, fundou a Escola de Serviço Social da Juventude, uma organização de apoio popular que passou a se dedicar à reconstrução de aldeias bombardeadas no Vietnã. Também fundou uma universidade budista, uma editora e uma revista influente ativista da paz no país.)