16 de agosto de 2013

A luta dos opostos


Um grande Mestre dizia: Buscai a iluminação que todo o resto vos será dado por acréscimo.

O pior inimigo da iluminação é o eu – um defeito psicológico –. É necessário que se saiba que o eu é um nó no fluir da existência, uma fatal obstrução no fluxo da vida livre em seu movimento.

Perguntou-se a um Mestre: Qual é o caminho?
Que magnífica montanha! – respondeu, referindo-se à montanha onde mantinha seu retiro.
Não vos perguntei a respeito da montanha e sim a respeito do caminho.
Enquanto não possais ir além da montanha, não podereis encontrar o caminho, replicou o Mestre.

Outro monge fez a mesma pergunta a esse mesmo Mestre:

Lá está, bem na frente de seus olhos, respondeu o Mestre.
Por que não posso vê-lo?
Porque tens idéias egoístas.
Poderei vê-lo, Senhor?
Enquanto tiveres uma visão dualista e digas: eu não posso e assim por diante, teus olhos estarão obscurecidos pela visão relativa.
Quando não há nem eu nem tu, se pode vê-lo?
Quando não há eu nem tu, quem quer vê-lo?

O fundamento do eu é o dualismo da mente. O eu se sustenta com o batalhar dos opostos.

Todo raciocínio fundamenta-se no batalhar dos opostos. Se dissermos: fulano de tal é alto, queremos dizer que não é baixo. Se dissermos: estou entrando, queremos dizer que não estamos saindo. Se dissermos: estou alegre, afirmamos com isto que não estamos tristes etc.

Os problemas da vida nada mais são do que formas mentais com dois pólos: um positivo e outro negativo.
Os problemas são criados e sustentados pela mente. Quando deixamos de pensar em um problema, este termina inevitavelmente.

Alegria e tristeza, prazer e dor, bem e mal, triunfo e derrota etc., constituem o batalhar dos opostos no qual o eu se fundamenta.

Vivemos miseravelmente toda a vida passando de um oposto a outro: triunfo-derrota, gosto-desgosto, prazer-dor, fracasso-êxito, isto-aquilo etc.

Precisamos nos libertar da tirania dos opostos e isto só é possível aprendendo-se a viver de instante em instante, sem abstrações de espécie alguma, sem sonhos e sem fantasias.

Haveis observado como as pedras do caminho estão pálidas e puras depois de um torrencial aguaceiro?
Só conseguimos soltar um “oh” de admiração. Precisamos compreender esse “oh” das coisas sem deformar essa divina exclamação com o batalhar dos opostos.

Joshu perguntou ao Mestre Nansen:
Que é o TAO?
A vida comum, respondeu Nansen.
Como se faz para se viver de acordo com ela?
Se tratares de viver de acordo com ela, fugirá de ti. Não trates de cantar esta canção, deixa que ela mesma se cante. 
Por acaso, o humilde soluço não vem por si mesmo?

Perguntaram ao Mestre Bokujo:
Teremos de nos vestir e comer todos os dias? Como poderíamos escapar de tudo isto?
O Mestre respondeu:
Comemos, nos vestimos...
Não compreendo, comentou o discípulo.
Então, veste e come, concluiu o Mestre.

Esta é precisamente a ação livre dos opostos. Comemos? Nos vestimos? Por que fazer disso um problema? Por que pensar em outras coisas enquanto se está comendo ou se vestindo?

Se estiveres comendo, come. Se estiveres vestindo, veste-te. Se estiveres andando pela rua, anda, anda, anda, mas não pense em outra coisa. Faça unicamente o que estás fazendo, não fujas do que estiveres fazendo, não fujas dos fatos nem os enchas de tantos significados, símbolos, sermões ou advertências.
Viva-os sem alegorias. Viva-os com a mente receptiva de instante em instante.

Compreende que estou te falando do sendeiro da ação livre do doloroso batalhar dos opostos.

Ação sem distrações, sem escapatórias, sem fantasias e sem abstrações de espécie alguma.

Mudai vosso caráter, amadíssimos, mudai-o através da ação inteligente, livre do batalhar dos opostos.

Quando se fecham as portas às fantasias, o órgão da intuição desperta.

A ação livre do batalhar dos opostos é ação intuitiva, é ação plena. Onde há plenitude, o eu está ausente.

A ação intuitiva conduz-nos pela mão até o despertar da consciência.

Trabalhemos e descansemos felizes, abandonando-nos ao curso da vida. Esvaziemos a água turva e podre do pensamento habitual e no vazio fluirá, com ele, a alegria de viver.

Esta ação inteligente, livre do batalhar dos opostos, eleva-nos a um ponto no qual algo deve se romper. Quando tudo caminha bem, rompe-se o teto rígido do pensar e a luz e o poder do Íntimo entram em abundância, pois a mente deixou de sonhar.

Então, no mundo físico e fora dele, durante o sono do corpo material, vivemos totalmente conscientes e iluminados gozando da alegria da vida dos mundos superiores.

Esta contínua tensão da mente, esta disciplina, leva-nos ao despertar da consciência. Se estamos comendo e pensando em negócios, é claro que estamos sonhando. Se estamos dirigindo um automóvel e estamos pensando na noiva, é lógico que não estamos despertos, estamos sonhando. Se estamos trabalhando e estamos nos lembrando do compadre ou da comadre, do amigo ou do irmão etc., é claro que estamos sonhando.

As pessoas que vivem sonhando no mundo físico vivem sonhando também nos mundos internos durante as horas em que o corpo físico está dormindo.

Precisamos deixar de sonhar nos mundos internos. Quando deixamos de sonhar no mundo físico, despertamos aqui e agora e este despertar aparece nos mundos internos.

Buscai primeiro a iluminação que todo o resto vos será dado por acréscimo.

Quem está iluminado vê o caminho. Quem não está iluminado não pode ver o caminho e facilmente pode extraviar-se da senda e cair no abismo.

São terríveis os esforços e a vigilância que se necessita de segundo em segundo, de instante em instante, para não se cair em devaneios. Basta um minuto de descuido e já a mente está sonhando: lembrou-se de algo, pensou em algo distinto ao trabalho ou ao fato que se está vivendo no momento etc.

Quando aprendemos a ficar despertos de instante em instante no mundo físico, durante as horas de sono do corpo físico e também depois da morte, vivemos despertos e auto-conscientes de instante a instante nos mundos internos.

É doloroso saber que a consciência de todos os seres humanos dorme e sonha profundamente, não somente durante as horas de repouso do corpo físico, mas também durante esse estado ironicamente chamado de vigília.

A ação livre do dualismo mental produz o despertar da consciência.

...
A Revolução da Dialética - V.M. Samael Aun Weor

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