16 de agosto de 2013

Sair da confusão


Construímos nossa vida perseguindo sonhos.

Tudo o que realizamos na ilusão torna mais sólida a prisão da ilusão.

Ter filhos com a pessoa errada, embrenhar-se numa atividade econômica de que será quase impossível se desvencilhar, envolver-se em jogos de poder na sociedade, tudo isso nos traz cada vez mais preocupações, paixões, compromissos de que temos cada vez menos chance de nos desfazer para nos despertar para a vida.

Todo ato realizado na confusão adensa a confusão.

O ódio de si dá a sensação de que o outro o odeia, pois projetamos nossos sentimentos e pensamentos no mundo. A crença de que o outro o odeia provoca fatalmente o ódio no outro. O outro, ao considerar que você o odeia, também irá odiá-lo, confirmando assim seus primeiros pensamentos e sustentando o ciclo. É assim que pensamentos odiosos, a começar pelo ódio de si, criam um mundo de ódio.

Usamos constantemente os seres, os signos e as coisas que estão em nosso contato em proveito de nosso drama pessoal. Em vez de ver as situações e as pessoas tais como são, perdemos muito tempo tentando descobrir o que elas representam para nós. O que está em jogo no mundo também está em nosso pensamento. Será que ainda temos chance de aprender alguma coisa?

A sabedoria consiste em parar de projetar, ficar efetivamente presente e aberto em vez de fabricar e refabricar continuamente o mundo que corresponde a nosso pensamento..., sofrendo assim suas consequências.

Estamos sempre projetando nosso drama pessoal no mundo, quando simplesmente poderíamos nos aproximar do espaço aberto tal como ele surge, a cada segundo. Em vez de pôr arduamente em cena o argumento que nos dirige à nossa revelia, poderíamos relaxar e ver o que acontece... Descobriríamos provavelmente que nada de horrível nem de assustador acontece, muito pelo contrário. Ao menos, descobriríamos algo.

O infeliz vive num mundo hostil, cheio de obstáculos. É estrangeiro num mundo que o agride e o frustra. O sábio, em compensação, tem a riqueza infinita de um mundo que lhe pertence. O mundo o ama. O mundo lhe devolve o amor que ele tem por si mesmo.

* * *

A “neurose” de uma pessoa é sempre uma limitação de sua força. Fabricamos para nós mesmos um mundo que nos impede de fruir e crescer. Somos nós que criamos as circunstâncias e as pessoas que viram nossos obstáculos. A viagem consiste em conquistar nossa própria força, nos tornar quem de fato somos, ocupar por fim o centro do mundo, viver num universo feito por nós, que acolha e abençoe nossa alegria...

Quando nossos pensamentos deixam de produzir o universo particular da neurose, passamos a circular em todos os mundos, ficamos livres.

A maioria de nossos pensamentos assemelha-se a pesadelos: dolorosos e ilusórios. Ora, os pensamentos, além disso, nos governam. Os pesadelos tornam-se então “realidade”. Como você vê o mundo? Sabe o que precisa mudar para melhorá-lo? Por sorte, a escolha entre ser prisioneiro dos pensamentos e vê-los pelo que são depende de nós. Mas para isso é preciso exercício, paciência e muita atenção.

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O Fogo Liberador - Pierre Lévy

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