20 de agosto de 2013

O amor


Adotando um comportamento tranqüilo, você suaviza o mundo. Como tudo começa por seu estado de espírito, treine para atingir a tranqüilidade de seus pensamentos. Seguindo o fio da suavidade, você acabará encontrando o amor.

Aquele que nunca conheceu o amor, dificilmente distinguira o amor da dependência.

O amor que faz mal só é amor no nome. Seja presente! Sinta!

O amor não promete. O amor não faz esperar. O amor não propaga o calor nem o frio. O amor é bom logo de início, o tempo todo.

O amor é totalmente estranho às relações de força, ao exercício do poder, à perseguição de um interesse.

Quer saber a diferença entre o amor e a sua caricatura? O amor é libertador, tanto para quem ama quanto para quem é amado. Você consegue perceber se ele o escraviza sutilmente, adula o seu ego, entorpece o fardo de viver? Há uma fatura a pagar? Então, não estamos falando de amor.

Amar sem ser amado é escolher não se amar, deixar o não-amor entrar em sua vida. Amar alguém que lhe faz mal é fazer deliberadamente mal a si próprio.

Quanto mais nos relacionamos com o outro, mais nos relacionamos conosco mesmo. Se assim não for, não se trata de amor, mas de alienação, dependência, rebate de egos.

Amar não quer dizer ser gentil, dar presentes, fazer o que o outro pede, imitar o amor, querer se refletir no outro, apegar-se a alguém que alimenta nosso ego, querer salvar o outro, etc. É o amor pleno, o coração que arde, só ele, a fonte de todo conhecimento.

Que extraordinária segurança nos dá o sentimento de amar e ser amado! De estar em contato, de alma para alma com alguém! De não estar mais só! Ter essa experiência permite encontrar-se consigo mesmo, amar a si mesmo. Ter essa experiência consigo próprio permite encontrar o outro nessa mesma condição.

As crianças brincam. As crianças vivem no instante. As crianças participam da dança cósmica. As crianças amam sem contrapartida. Os amantes são crianças.

Qualquer que seja a relação em que você se envolva, que seja o amor o seu único motivo.

Você só pode saber quem é se tiver sido amado.

O que significa “ter sido amado”? Significa que seus pais e aqueles que lhe eram próximos dirigiram-se a você como alma. Que você foi iniciado na dança cósmica. Que foi amado incondicionalmente (não há outra forma de amar).
Que a afeição espontânea que você tem por seus próximos não foi utilizada para alimentar o ego, o narcisismo, o medo, a culpa, ou a dor deles. Em uma palavra, você recebeu quando criança o espaço necessário para identificar a luz de sua alma? Ou, ao contrário, aprendeu a formar um ego complementar ao de seus pais?

Se concluir não ter sido amado, inútil alimentar acusações, reprovações e ressentimentos sem fim. O único remédio, o remédio soberano, é amar a si mesmo.

Em vez de se condenar, dê a seus pensamentos, suas intenções, seus atos, a melhor interpretação. Sinta o amor que impregna todos os aspectos de sua subjetividade. Pare de se odiar. Você é bom. Pare de se julgar. Você é inocente.

Ame-se tal como é. Ame-se desde já.

Se você não se ama, como pode querer que os outros o amem? Será que pode lhes pedir para amar alguém que você não ama? Ninguém em sã consciência poderia segui-lo. Você só atrairia loucos...

Quando Você passa a se amar, tem muito menos “necessidade” do amor dos outros, pois a partir de então você é amado(a)! Amando-se, sendo amado(a), você não se jogará mais nos braços de qualquer um para fugir da solidão. Porque você se ama, sabe o quanto é precioso(a), e quer o seu próprio bem. Só assim será capaz de escolher, escolher de verdade, alguém que você ama e que o(a) ama.

Quem não se ama usa os outros para preencher as próprias deficiências, busca um ego complementar ao seu.

Só podemos amar os outros de verdade se nos amamos.

Amar-se, amar-se de verdade, não em abstrato, em geral, porque é preciso, mas amar-se com amor, tal como se é, com os detalhes de seu corpo e de seu caráter; não com um apego narcisista, mas com o amor da alma e que se dirige à centelha. Amar-se não é perguntar ao espelho se sou a mais bela, isso não é amar, amar com o coração.
Olhar para a própria imagem é viver no terror da derrota. O amor não quer que você corresponda a um ideal, o amor não é orgulhoso, não despreza os outros. O amor é muito simples: o amor não quer que você sofra.

Quando perceber que está sempre se debatendo contra si mesmo, que é a si próprio que você não ama quando detesta o outro, então tenha compaixão por si mesmo. Sinta o sofrimento que se esconde por trás de sua cólera, sua reivindicação, seu ressentimento. Sinta a falta de amor. E esse amor que tanto falta, ofereça-o. Primeiro, ofereça- o a si mesmo. Compreenda-se, perdoe-se, ame-se. Depois dê também esse amor ao outro. Aquele ou aquela que está justamente na sua frente. Ame o próximo como a si mesmo.

“Ame o próximo como a si mesmo.” Nem sempre entendemos o sentido dessa fórmula: você deverá amar o próximo na exata medida em que ama a si mesmo. Como a si mesmo. Não é uma injunção autoritária: “Ame o próximo como a si mesmo!” É o enunciado de uma relação imutável, quase matemática entre o amor de si e o amor do próximo: você sempre amará o próximo como ama a si mesmo. Se você se ama mal, assim o amará. Quanto mais for capaz de se amar, mais será feliz, e melhor poderá amar o próximo. Você é o mais próximo de todos os seus próximos.

A observação microscópica dos pensamentos revela que fazemos constantemente, embora quase inconscientemente, um julgamento negativo de nós mesmos, de nossas ações, palavras e de nossos pensamentos. É difícil parar de se julgar, parar de sofrer, se amar porque o denegrimento de si é um reflexo íntimo do espírito. O amor requer um descondicionamento enérgico, intensivo e prolongado. Devemos até mesmo abandonar a idéia de que nos é difícil amar.

O ego quer expandir-se por toda parte. Sofrimento gera sofrimento. Amor desperta amor. Só o amor compreende o amor e revela o amor a si próprio. O amor ama os seres tais como são.

Os moralistas têm razão de sublinhar que o amor-próprio forma o motivo quase exclusivo de nossos pensamentos, palavras e atos. Mas esquecem de assinalar que o “eu”, objeto de nosso amor, pode ter duas caras bem diferentes. Um primeiro “eu”, separado do mundo, mentiroso, sedutor, agressivo, narcisista, ciumento, cobiçoso, assustado ou envergonhado. E um segundo, mais vasto e mais verdadeiro, que envolve o mundo. Podemos escolher nosso amor-próprio.

A Terra sustenta tudo o que tem vida, o Sol ilumina sem distinção a infinita variedade dos seres. Quando você tiver se reconciliado consigo mesmo, terá também se reconciliado com todos os seres. Tudo o que você odeia no inundo é aquilo que não consegue suportar em si mesmo. Quando tiver se reconciliado com seu próprio ego, seu próprio sofrimento, sua própria insensibilidade, então poderá amar o mundo com um amor universal.

Ame-se, e o Céu o amará.

Você teme ficar sozinha e, no entanto, está sempre acompanhada do ser divino. Teme a solidão e, no entanto, você poderia ser sua melhor amiga. Essas duas frases têm exatamente o mesmo sentido.

Nossa felicidade só depende de nós porque ser feliz é amar a si mesmo.

Amar a si mesmo, muito bem! Mas quem é “si”? Não podemos nos amar se não nos conhecemos. Ora, só podemos nos conhecer se tivermos sido amados.

Conhecer-se é distinguir o si (a luz do instante que envolve o mundo) do ego (a imagem que encobre os mecanismos do sofrimento e que se faz passar por nós).

No momento em que nos conhecemos como centelha do fogo divino, passamos a nos amar. Não podemos nos conhecer sem nos amar.

O amor é o sol das almas.

Amar o outro é reconhecer e querer que o mundo do outro seja belo. Como todos os mundos se implicam reciprocamente, o amor consiste em reconhecer e querer que o mundo seja belo. Ora, nós somos o mundo. Amar, então, é viver unicamente da vida da alma. Também vale dizer que não devemos nos agredir nem tampouco agredir o outro: trata-se sempre de nosso mundo. Quando percebemos a unidade da alma e do todo no presente, é impossível não amar.

* * *

É impossível compreender seja o que for sem compreender a beleza.

Se não há distinção entre si e o mundo, odiar alguém é o mesmo que odiar a si mesmo. O ser alerta ama absolutamente todo o mundo porque está em paz consigo, com o instante, porque tudo está exatamente tal como é, porque não espera nada de mais ou de melhor, porque não compara aquele que encontra com o que deveria ser. Seu amor e sua compaixão irradiam sobre todos porque não há “pessoas”, mas apenas o instante. Ele sente a beleza do instante. Ele é o instante. Não é preciso fazer nenhum esforço para amar os outros.

O supremo conhecimento, aquele que faz ver que a vida tem um sentido, o conhecimento que é exatamente o conhecimento de Deus é a experiência do amor, da ternura e da compaixão incondicional.

Ter sido profundamente amado, ou amar-se integralmente, sem julgamento, permite amar outros seres, irradiar sobre eles o amor que recebemos de Deus, do Deus que se ama dentro de nós.

Uma alma salva (amada, amante, radiante) pode despertar outras almas. Essa corrente de amor, essa propagação de ternura entre os seres é a única e verdadeira religião.

Deus não é um ser nem uma substância. Deus é a plenitude das relações de amor.

Honre em cada ser o amor que o faz nascer a cada instante.

Amar, amar de verdade, incondicionalmente (e amar a si mesmo no mesmo movimento), tal o significado de “conhecer”. Fora do amor verdadeiro, profundo, terno, sincero, incondicional, espontâneo, não há nenhum conhecimento do ser, da vida ou de Deus. O amor é conhecimento porque sem amar e sem ser amado não há maneira de orientar a vida. O amor é o pólo magnético e a bússola. Quem dele não dispõe está totalmente perdido. A experiência do amor é a luz e a visão. Quem dela é privado vive nas trevas. O amor é a fonte, o centro, o ponto de apoio absoluto de todo conhecimento, a referência última.

Saber, no sentido mais fundamental, é experimentar, encontrar, conhecer o gosto e a textura do amor.

Só conhecemos se amamos.

O amor se sente, como a luz. Amar e conhecer são exatamente a mesma dilatação da luz.

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O Fogo Liberador - Pierre Lévy

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